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André Rocha

Diegos, Souza e Ribas, são trunfos de Tite para mudar o jogo e manter foco

André Rocha

03/03/2017 17h08

Um Diego, o Souza, não é centroavante no Sport, embora já tenha atuado como referência na frente no próprio time pernambucano, no Vasco e em outros clubes. O outro, o Ribas, por suas características, obrigou o técnico Zé Ricardo a desfazer no Flamengo o 4-1-4-1, sistema de sua preferência e também o de Tite, e deixar o meia mais centralizado e adiantado num 4-2-3-1.

Se Tite sempre afirma que procura escolher os jogadores com o pensamento de que eles cumpram na seleção as funções que exercem nos clubes, a convocação da dupla para as vagas dos lesionados Gabriel Jesus e Lucas Lima – este também em má fase –  seria uma incoerência, certo?

Pode ser. E quase invariavelmente há polêmicas e divergências a cada lista divulgada. Mas está claro que Tite os trata como reservas. E a ideia é utilizá-los para mudar o jogo, se for preciso.

Porque Gabriel Jesus até sabe fazer trabalho de pivô – e estava aprimorando no ataque posicional de Pep Guardiola no Manchester City. Mas na seleção sua principal virtude era aproveitar os espaços às costas da defesa e usar sua velocidade e rapidez de raciocínio e execução.

Roberto Firmino, o provável substituto para os jogos contra Uruguai e Paraguai, segue a mesma linha e não vem sendo tão efetivo nas finalizações pelo Liverpool. Então, se precisar de presença física na área e faro de gol, Tite conta com Diego Souza, um dos artilheiros do Brasileiro do ano passado com 14 gols.

O mesmo vale para o Diego do Flamengo, que não se enquadra nas características de meio-campista que Tite aprecia como os centrais da linha de quatro à frente do volante mais fixo. Não é reposição a Renato Augusto, o mais cerebral.

O meia rubro-negro é jogador de condução de bola e finalização. Não passe e controle. E sofre diante de marcações mais compactas e estreitas, porque precisa dominar, girar para depois decidir o que fazer com a bola. Por isso teve dificuldades na Europa nos últimos anos. Tite alega que ele entrou bem diante da Colômbia, mas era o segundo tempo de um amistoso festivo.

Ainda assim, se ele precisar em um momento de sufoco, de um meia que pise na área adversária e acrescente presença física e contundência, Diego tem muito acrescentar. Já marcou dez gols em 24 jogos pelo Flamengo.

Convocar os dois depois do amistoso no Engenhão contra a Colômbia serve também e principalmente como um aviso importante. Palavras do próprio treinador na coletiva depois da divulgação dos nomes: "Então quero passar uma mensagem aos atletas: prepare-se, jogue muito nos seus clubes, tenham um bom preparamento físico. Atleta de alto nível a exigência é essa. Precisamos disso. Aí está a oportunidade. Diego no lugar do Gabriel é a oportunidade".

É o remédio que Tite enxerga para evitar acomodação e grupo fechado, problemas brasileiros na preparação desde o último título mundial em 2002. Agora não tem Copa das Federações, ou das Ilusões, para vencer e se considerar preparado para o Mundial. É uma vantagem.

A outra é manter todos focados e atentos. Os Diegos aproveitaram suas chances e entraram no radar.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.