O "segredo" de Tite que Carille retoma com sucesso no Corinthians
A vitória por 2 a 0 sobre o Luverdense na Arena Pantanal encaminha a classificação do Corinthians para a quarta fase da Copa do Brasil. Também dá a chance do técnico Fabio Carille rodar o elenco no jogo da volta.
Se o desempenho ofensivo vai aos poucos ganhando criatividade e fluência com o encaixe de Jadson pelo lado direito na linha de meias no 4-1-4-1, salta aos olhos os números defensivos.
Nas três partidas pelo torneio nacional, nenhum gol sofrido. Sim, adversários frágeis. Mas a retaguarda também não foi vazada nos clássicos contra Palmeiras, Santos e São Paulo, este no torneio amistoso na Flórida. No Paulista, só quatro gols sofridos. Contra Santo André e Mirassol. Cinco partidas sem Cássio ser batido.
A solidez dos tempos de Tite, mesmo em 2013, ano do declínio antes do período sabático, voltou depois de fortes oscilações sob o comando de Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira. Porque Carille resgatou uma solução que ajudou o atual técnico da seleção brasileira a se destacar no cenário nacional.
É o que o próprio chama de "última linha posicional". Ou seja, a defesa com os zagueiros mais próximos dos laterais. Marcando por zona, tendo a bola e o espaço como as referências, não o jogador.
A grande sacada é criar uma espécie de cinturão à frente do goleiro. Uma adaptação da escola italiana, que Tite foi estudar na década passada. Nem tão adiantada, exposta e espaçada como a da escola espanhola, que depende demais da pressão sobre o jogador com a bola para "quebrar" o passe. Muito menos semelhante à brasileira, com marcação individual e zagueiros afundados, muito próximos da própria área e que precisam do desarme salvador ou da cobertura do zagueiro de sobra.
O bloqueio é estreito. Quando o adversário ataca por um lado, a linha faz uma espécie de diagonal. O lateral se adianta para marcar, o zagueiro fica atento na cobertura, o do outro lado fica pronto para cortar o cruzamento e o lateral do lado oposto recua e faz a diagonal de cobertura ou espera uma possível inversão da jogada.
A ideia é evitar a bola longa pelo centro ou na diagonal que proporciona a conclusão. Assim induz o lançamento mais aberto e o lateral tem tempo para bloquear a ação ofensiva menos perigosa. O posicionamento compensa também eventuais erros de compactação dos homens do meio-campo.
O atacante brasileiro, mesmo o sul-americano, fica desconfortável com o cerco que espera o momento do bote. Na tomada de decisão costuma se atrapalhar e facilitar o defensor. Não é receita infalível, mas minimiza os gols sofridos e as chances criadas pelos adversários.
Desde Alessandro, Chicão, Leandro Castán (depois Paulo André) e Fabio Santos em 2012, passando por Fagner, Felipe, Gil e Uendel no ano passado. Agora, Fagner, Balbuena, Pablo e Arana vão ganhando entrosamento, assimilando os movimentos que não são simples. Exigem inteligência, noção de espaços e concentração. Até aqui a resposta tem sido positiva. Também pelas orientações de Cássio, que conhece toda a mecânica defensiva.
Tite foi estudar e se reciclar em 2014. Voltou apostando em criatividade, movimentação e triangulações para criar superioridade numérica no setor em que está a bola. Uma mudança notável de conceitos ofensivos. Mas o trabalho sem a bola não muda. Nem no Corinthians campeão brasileiro de 2015, nem na seleção brasileira líder das Eliminatórias.
Setores compactos, "perde e pressiona"…e a última linha de defesa posicionada. O "segredo" de Tite que Carille, ex-auxilar que colaborava exatamente na montagem da retaguarda, retoma com sucesso neste início de temporada.
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