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André Rocha

Viva a estrutura federativa do Brasil! Os clubes merecem essa coleira

André Rocha

24/03/2017 10h50

Enquanto a seleção se preparava para os 4 a 1 sobre o Uruguai em Montevidéu, a CBF aproveitou a paz que conseguiu com as vitórias da equipe de Tite para reafirmar seu poder no futebol brasileiro.

Alterou o colégio eleitoral com uma mudança significativa em seu estatuto: os votos das federações estaduais passam a ter peso três. Os clubes da Série A peso dois e os da Série B – a novidade que poderia mudar o jogo, só que não – com peso um.

São 27 federações. Ou seja, 81 votos. Vinte clubes da Série A. 40 votos. Vinte clubes da Série B: 20 votos. 81 a 60.

Ou seja, quem decide o destino do futebol brasileiro são as entidades que deviam ser apenas coadjuvantes, executar funções burocráticas e serem mediadoras e facilitadoras dos interesses dos verdadeiros protagonistas.

Porque federação não tem torcida, não move paixões nem multidões. Não movimenta o dinheiro. Mas se aproveita dele.

Portanto, se prepare para mais estaduais inchados. Porque é assim que a estrutura federativa do futebol brasileiro funciona: os clubes pequenos, que não se contentam em disputar suas divisões no Brasileiro e querem enfrentar os grandes além da Copa do Brasil, sustentam as federações que mantêm o poder da CBF. É a pirâmide da barganha.

Mas os clubes brasileiros devem estar radiantes. Afinal, toda iniciativa para construir uma independência foi implodida pela própria desunião. Pelo amadorismo secular. Clube dos Treze, Copa União, Bom Senso FC, Primeira Liga. Tiros na água da correnteza de incompetência e provincianismo.

Porque é mais fácil ser aliado da federação e levar vantagem num mando de campo aqui, uma arbitragem ali. Se acabar campeão, para o torcedor está tudo maravilhoso. Inclusive alguns clubes repetem a estrutura internamente, criando seus "feudos".

E se perder já tem em quem colocar a culpa e transferir responsabilidade: "não somos os queridinhos da federação", "fomos roubados" e por aí vai. A velha muleta para iludir os incautos.

Os clubes merecem que um agente externo embolse uma parte importante de seus recursos. Que sigam fazendo o jogo das emissoras de TV. Que continuem vivendo de migalhas da própria grandeza. Merecem essa coleira. Independência, para quê?

Enquanto isso, Marco Polo Del Nero e seus asseclas comemoram uma vitória que não devia ser deles. Viva a seleção ressuscitada! Os clubes? Que obedeçam ou morram à míngua.

Parabéns aos envolvidos.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.