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André Rocha

Vitória do Atlético de Roger Machado no modo "Galo Doido" que ninguém muda

André Rocha

27/04/2017 00h01

Roger Machado chamou atenção e mudou de patamar como treinador no futebol brasileiro em 2015 com um Grêmio de elenco considerado fraco, candidato ao rebaixamento na principal competição nacional antes da bola rolar, ainda sob o comando de Felipão. Na prática, porém, se destacou por um jogo construído desde a defesa, valorizando posse de bola e trocando passes no ritmo de Douglas, o meia central em um 4-2-3-1.

No Atlético, procura implementar seus conceitos. Na equipe que iniciou o "jogo da revanche" contra o Libertad no Independência, para se recuperar da derrota em Assunção num jogo atípico, com gramado impraticável, a formação inicial com Maicosuel na vaga de Danilo Barcelos.

O 4-2-3-1 atleticano tinha o meia aberto à direita, Otero pela esquerda e Robinho solto, circulando atrás de Fred. Com liberdade para usar a técnica de atacante experiente e talentoso na distribuição das jogadas e trabalhando a bola com Elias, deixando Rafael Carioca no início da construção das jogadas.

O Galo tinha a bola, terminando o primeiro tempo com 61% de posse, mas sofria para infiltrar no organizado 4-1-4-1 da equipe paraguaia, com linhas muito próximas. Compacta à frente da área, mas tentando jogar, não isolando o único atacante, o experiente Santiago Salcedo.

Quando o adversário quebrava a marcação, o time comandado por Fernando Jubero parava com faltas. Foram nove em pouco mais de 45 minutos, contra apenas três. Com o jogo travado, foram sete finalizações do Atlético e três do Libertad. Uma para cada equipe no alvo. Pouco.

O 4-2-3-1 inicial do Atlético com Maicosuel e Otero pelos flancos e Robinho solto, circulando atrás de Fred. Organizado e com posse, porém se capacidade de encontrar espaços no 4-1-4-1 compacto do Libertad (Tactical Pad).

Roger esperou 15 minutos da segunda etapa para atender a torcida: Rafael Moura, que vem aproveitando as oportunidades em seu retorno ao clube depois do empréstimo ao Figueirense, no lugar de Otero, que caiu de produção com a inversão para o lado direito. A mudança, porém, não parecia a mais adequada na leitura do jogo.

Tanto que o Libertad saiu para o jogo e criou problemas, aproveitando o buraco deixado no meio entre os volantes e o quarteto ofensivo. Só não penou mais porque, desta vez, tinha Victor na meta. Curiosamente, a torcida passou a cobrar "raça". Só que o problema nitidamente era tático.

Resolvido em uma ação individual. Maicosuel, antes considerado um meia articulador e que de repente passou a ser tratado como um ponteiro velocista, saiu da direita, procurou o centro e criou o espaço. Passe para o pivô de Fred e Robinho, saindo da esquerda e fazendo uma diagonal longa até parar do lado oposto, recebeu e finalizou com precisão.

O talento em uma jogada aleatória mudou o jogo, trouxe a torcida junto e criou a atmosfera favorável no Horto. Típico do modo "Galo Doido", consagrado nos tempos de Cuca com a conquista da Libertadores e que nenhum treinador conseguiu até aqui adaptar à própria visão. No sufoco, entra o abafa e o jogo direto, sem muita construção.

Com formação tão ofensiva para buscar o gol, Roger buscou o equilíbrio com a vantagem construída. Primeiro com Cazares na vaga do extenuado Robinho para recompor à esquerda. Depois uma trinca de volantes ao trocar Maicosuel por Adilson.

O Libertad avançou as linhas, passou a rondar a área atleticana com perigo. Mas deixando espaços para um Atlético nem tão organizado, mas confiante e dando liberdade a Elias e Cazares, que seguiu aberto pela esquerda e Fred e Rafael Moura no centro. Sem opção à direita.

Ainda assim, definiu a disputa com o meia equatoriano no final. Fred atacou o espaço pela direita e serviu Rafael Moura. O goleiro Muñoz salvou e sofreu falta do "He-Man". No rebote, gol de Cazares.

No final, um 4-3-3 com três volantes sem um jogador aberto à direita, mas Fred infiltrou por ali na jogada do gol de Cazares que definiu a vitória sobre o time paraguaio que buscou a reação com Cañete e Antonio Bareiro (Tactical Pad).

Com o jogo mais aleatório, foram 12 finalizações. Até subiu a posse para 62%, mas muito mais pelo volume e a necessidade de atacar do que uma proposta de trabalhar mais as ações ofensivas. Deu certo.

Os 2 a 0 colocam o Galo à frente do Godoy Cruz no Grupo 6 pelo saldo, mesmo com um jogo a mais. Importante, porém, foi polarizar a disputa da liderança e abrir três pontos em relação ao Libertad. Saindo contra o frágil Sport Boys, a provável decisão da liderança do grupo será em casa contra os argentinos.

Antes, a final do estadual contra o rival Cruzeiro. Qual Galo estará em campo: o que tenta controlar o jogo como quer Roger ou o time que faz a bola chegar rapidamente na frente e define logo os ataques?

Contra o Libertad, mais uma vez foi o "Galo Doido" que se impôs no Independência.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.