Topo

André Rocha

Abertura da Série A sinaliza equilíbrio que deve ser a marca da competição

André Rocha

13/05/2017 21h45

Dois bons jogos no Maracanã e na Arena em Itaquera. Em tática e no equilíbrio das ações.

O primeiro gol da Série A em 2017 saiu de uma jogada pela esquerda. Desde a divulgação das escalações, parecia claro que a opção de Zé Ricardo pelo Flamengo no 4-2-3-1 com Matheus Sávio seria para forçar o jogo no setor: Trauco, Everton e o jovem meia para cima de Carlos César, substituto de Marcos Rocha no Atlético Mineiro que não tinha o devido auxílio de Elias.

Cruzamento fechado de Sávio, Victor ficou atento a Guerrero e a bola entrou. Gol único de uma primeira etapa em que os visitantes tiveram a bola (terminaram com 58%), mas foram pouco efetivos. Faltava mobilidade, criatividade e chutes de fora da área, já que o sistema defensivo do Fla estava sólido, com concentração máxima.

O time rubro-negro foi mais incisivo, porém faltou novamente contundência. Também a tomada de decisão correta de Berrío em um contragolpe todo dele, mas o colombiano preferiu acionar Guerrero com caminho livre à frente para finalizar cruzado.

Em um jogo tão equilibrado, foi fatal. Roger Machado lançou mão de seu forte elenco trocando Otero, de atuação pluripatérica, por Cazares, que bagunçou a retaguarda rubro-negra e teve duas chances claras de empatar, mas Rafael Vaz salvou ambas sobre a linha.

O contestado zagueiro em tarde de heroi não pôde evitar o erro de Arão e Márcio Araújo na saída de bola, o "pé mole" de Rever na dividida que caiu nos pés de Robinho. Deste para Fred até chegar a Elias no gol de empate.

Zé Ricardo foi corajoso ao mandar a campo Ederson, vindo de longa inatividade, e Vinicius Junior, depois de apostar na formação inicial do último Fla-Flu quando trocou Sávio por Renê e Trauco voltou ao meio-campo. Mas o peruano caiu de produção e obrigou o treinador a mudar de novo.

A joia de 16 anos entrou com afobação natural, mas nada que comprometesse. Roger trocou Fred e Robinho por Rafael Moura e Maicosuel. Ganhou vigor físico, perdeu poder de decisão. Podia ter custado caro, mas Gabriel salvou gol certo de Guerrero.

Apesar da maior posse e das 13 finalizações do Atlético contra dez do Fla, ninguém merecia perder no Maracanã.

Nível mantido em São Paulo. Com uma Chapecoense organizada num 4-1-4-1, com linhas compactas e sem abdicar do jogo, mesmo fora de casa. Com Apodi, que era um típico ala "peladeiro" há alguns anos atuando como lateral, um defensor de última linha. Podia ter marcado com Arthur.

O Corinthians foi às redes quando a jogada individual de Fagner quebrou as linhas de marcação e Rodriguinho, de novo mais avançado no 4-2-3-1 de Fabio Carille, serviu Jô. Descomplicando uma disputa dura, de bom nível tático e estratégico.

Complicada pela lesão de Pablo ainda no primeiro tempo. Pedro Henrique entrou e não comprometeu, mas sempre há uma perda na coordenação da última linha posicional com qualquer mudança nas peças.

O time de Carille novamente se complicou quando precisou ter a bola, mesmo com Jadson saindo mais do lado direito para circular e ajudar Rodriguinho e Maycon na armação das jogadas. Ainda assim, não há fluência para criar a chance cristalina.

A desvantagem não desmanchou mentalmente o time catarinense, que seguiu fiel à sua proposta de defender com organização e trabalhar pelos flancos. Sem muita criatividade no meio com Luiz Antonio e João Pedro, mas levando vantagem pela direita com Apodi e Rossi para cima de Arana e Romero.

Paraguaio que errou em um contragolpe de três contra um, depois cinco contra dois no mesmo lance. O futebol costuma punir. O golpe veio no gol de Wellington Paulista no rebote de nova jogada pela direita que encontrou Arthur Caike contra Fagner e a cabeçada no travessão.

O Corinthians tentou um abafa final com Kazim e Jô na área adversária e Leo Jabá pela esquerda – saíram Gabriel e Romero. Vagner Mancini fechou sua equipe apenas nos minutos finais. Terminou com 41% de posse, mas 15 finalizações, o triplo do anfitrião – quatro a dois no alvo.

Empates em jogos iguais. Mesmo descontando a empolgação e a tensão naturais em estreias, as partidas deixaram bem claro que a evolução tática chegou ao país. Com atraso, mas chegou. Com equipes mais coletivas e organizadas, a tendência é o campeonato ficar ainda mais parelho. O que já é sua marca.

Melhor para todos. Ótimo para quem assistiu às duas partidas com poucos gols, mas bom futebol.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.