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André Rocha

O time de Vagner Mancini por trás da simbólica liderança da Chapecoense

André Rocha

30/05/2017 11h21

Exatos seis meses depois da tragédia na Colômbia, a Chapecoense que emergiu entre os escombros chega à liderança do Brasileiro. Algo nunca alcançado pelo clube, nem com os que partiram pela irresponsabilidade assassina e suicida de um piloto de avião.

Chegar ao topo da tabela neste momento significa bem pouco para a sequência do campeonato. Ano passado, como já dito e redito por aqui e por aí, Internacional e Santa Cruz dividiam a primeira colocação após três partidas e acabaram rebaixados.

Para a equipe catarinense, porém, tem todo o simbolismo de reconstrução. Se a filosofia do clube não mudou, e nada indica que tenha se alterado, a meta continuará a mesma: manter-se na Série A e, se possível, melhorar a posição em relação a 2016 – 11ª colocação.

Analisando o desempenho da equipe montada do zero por Vagner Mancini, o objetivo é plenamente possível de ser alcançado. Porque a Chape é competitiva. Mostrou isso no título estadual e na campanha da Libertadores, que no campo terminou em vaga. Uma noite ruim em Medellín pela Recopa contra o Atlético Nacional, mas que pode ser tratada como uma oscilação natural. Até por tudo que envolveu as partidas, inclusive emocionalmente.

A Chapecoense atua com linhas próximas, em um 4-3-3/4-1-4-1 que nunca abdica de jogar. Tem Apodi ainda voando pela direita, mas não como um ala. Mancini tem conseguido convencê-lo a ser um lateral, primeiro defendendo e depois apoiando. O mesmo com Reinaldo do lado oposto.

Os laterais têm o suporte nos momentos ofensivo e também defensivo dos ponteiros Rossi e Arthur Caike e dos meias Luiz e Antonio e Seijas, substituto do lesionado João Pedro, lateral improvisado no meio-campo. Na proteção, saída de bola e também chegada à frente, Andrei Girotto. O trio de meio-campistas alternam nas funções de defesa e ataque.

Retaguarda que ganhou zaga nova com Victor Ramos e Luiz Otávio, este envolvido na eliminação da Libertadores por escalação irregular, mas vem mostrando segurança atrás e aproveitando sua estatura (1,94) para se apresentar na área adversária como opção para as muitas jogadas aéreas da equipe, inclusive em cobranças de lateral.

Na frente, Wellington Paulista trabalha como pivô, abre espaços e também se aproveita das jogadas pelos flancos para fazer seus gols. Marcou o segundo no Brasileiro nos 2 a 0 sobre o Avaí na Arena Condá, que continua sendo um trunfo para somar pontos. No ano, o aproveitamento em casa é de 70%.

A atuação mais consistente, porém, foi na estreia contra o Corinthians em Itaquera. Negou espaços, finalizou o triplo (15 a 5), mesmo com menos posse de bola. Poderia ter vencido uma das equipes que também somam sete pontos em nove possíveis e só perde no saldo de gols.

Uma prova de força e referência para a Chape seguir com seu estilo prático e objetivo, trabalhando jogo a jogo e só subindo a meta quando a inicial for alcançada. O campo vem mostrando que o clube acertou ao não aceitar proteção contra o rebaixamento. Também houve critério e cuidado para recusar as "ofertas" de clubes que só queriam se livrar de jogadores pouco úteis.

Quem chegou mostra comprometimento com a causa esportiva. Mas a Chapecoense não é só honra e garra. Tem uma equipe bem montada, ciente de suas fraquezas e, por isso, focada no trabalho coletivo para se colocar entre os grandes. Méritos de Vagner Mancini.

O 4-3-3/4-1-4-1 da Chapecoense de Vagner Mancini com linhas compactas, mobilidade na frente, apoio dos laterais e trabalho dos meio-campistas que defendem e atacam alternando funções (Tactical Pad).

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.