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André Rocha

Rogério Ceni sabia, ou devia saber...

André Rocha

03/07/2017 18h37

Rogério Ceni sabia, ou devia saber…

Que a carga de responsabilidade seria imensa. Que no futebol brasileiro que mais sente do que pensa ele seria cobrado como o ídolo-bandeira-goleiro e não um treinador iniciante. Que não teriam tanta paciência assim. Que seriam capazes da calhordice de esperar o São Paulo entrar na zona de rebaixamento do Brasileiro e usarem como álibi para uma demissão.

Que o período de estudos na Europa poderia não ser suficiente para chegar com conceitos sólidos e métodos definidos para colocá-los em prática de imediato. Que jogar com a intensidade máxima desejada no nosso calendário é praticamente impossível. Que a antipatia que cultivou ao longo do tempo por defender incondicionalmente o clube, sempre com certa arrogância, faria parte da imprensa não ser tão paciente com ele.

Que sua "tropa de choque" de jornalistas-torcedores/fãs não seria capaz de blindagem eterna. Que a diretoria, ainda nos tempos de Carlos Miguel Aidar, já tinha irritado Juan Carlos Osorio com a compra e venda de jogadores durante o Brasileiro.

Que podia fraquejar em suas convicções e jogar mais por resultados que desempenho, como tantos outros treinadores com que trabalhou fizeram – ou foram obrigados a fazer. Que a torcida teria carinho e paciência até o limite, mas não para sempre. Que nossa cultura é imediatista e pode moer até as carnes mais nobres. Até as sagradas.

Rogério Ceni sabia, ou devia saber, que a chance de dar errado era enorme. Que o mercado de treinadores praticamente se fecha para ele no Brasil. Que para ser diretor ou ocupar outro cargo no tricolor do Morumbi só com a troca na direção. Ou talvez ele mesmo sendo presidente. Que o sonho era ambicioso.

Mas acabou. Rogério Ceni sabia, ou devia saber, que ser mito na meta não credencia ninguém à onipotência e à onisciência. Não é licença para todas as funções no futebol. Pena ter descoberto, ou constatado, da pior maneira.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.