Rogério Ceni sabia, ou devia saber...
Rogério Ceni sabia, ou devia saber…
Que a carga de responsabilidade seria imensa. Que no futebol brasileiro que mais sente do que pensa ele seria cobrado como o ídolo-bandeira-goleiro e não um treinador iniciante. Que não teriam tanta paciência assim. Que seriam capazes da calhordice de esperar o São Paulo entrar na zona de rebaixamento do Brasileiro e usarem como álibi para uma demissão.
Que o período de estudos na Europa poderia não ser suficiente para chegar com conceitos sólidos e métodos definidos para colocá-los em prática de imediato. Que jogar com a intensidade máxima desejada no nosso calendário é praticamente impossível. Que a antipatia que cultivou ao longo do tempo por defender incondicionalmente o clube, sempre com certa arrogância, faria parte da imprensa não ser tão paciente com ele.
Que sua "tropa de choque" de jornalistas-torcedores/fãs não seria capaz de blindagem eterna. Que a diretoria, ainda nos tempos de Carlos Miguel Aidar, já tinha irritado Juan Carlos Osorio com a compra e venda de jogadores durante o Brasileiro.
Que podia fraquejar em suas convicções e jogar mais por resultados que desempenho, como tantos outros treinadores com que trabalhou fizeram – ou foram obrigados a fazer. Que a torcida teria carinho e paciência até o limite, mas não para sempre. Que nossa cultura é imediatista e pode moer até as carnes mais nobres. Até as sagradas.
Rogério Ceni sabia, ou devia saber, que a chance de dar errado era enorme. Que o mercado de treinadores praticamente se fecha para ele no Brasil. Que para ser diretor ou ocupar outro cargo no tricolor do Morumbi só com a troca na direção. Ou talvez ele mesmo sendo presidente. Que o sonho era ambicioso.
Mas acabou. Rogério Ceni sabia, ou devia saber, que ser mito na meta não credencia ninguém à onipotência e à onisciência. Não é licença para todas as funções no futebol. Pena ter descoberto, ou constatado, da pior maneira.
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