Topo

André Rocha

Everton Ribeiro, a diferença no típico clássico da cultura do mal jogar

André Rocha

08/07/2017 20h37

O clássico em São Januário já seria naturalmente prejudicado pelos problemas das equipes antes e durante o jogo. Flamengo perdeu Rever pouco antes da partida por um problema gástrico, depois Rhodolfo lesionado. Entrou Léo Duarte, jovem que ganhou poucas oportunidades e entrou numa gelada. Não complicou e também saiu por contusão após levar entrada de Luis Fabiano na disputa que terminou no gol de Yago Pikachu bem anulado.

O time rubro-negro terminou a partida com Romulo improvisado e Rafael Vaz na zaga. Zé Ricardo também perdeu Guerrero, que deu lugar a Leandro Damião.

Milton Mendes ficou sem Douglas, seu melhor meio-campista, suspenso. Depois o substituto Bruno Paulista, também lesionado e substituído por Andrey. Desde o início, o time da casa apostou em um jogo físico, com marcação pressionada e parando com faltas seguidas. O Flamengo não conseguia sair pela já conhecida falta de criatividade da equipe. Apelou 13 vezes para o cruzamento.

O resultado foi um primeiro tempo sofrível. Os visitantes com 57% de posse, mas apenas três finalizações. A única no alvo em 45 minutos de Paolo Guerrero que, mesmo sem o zagueiro Rodrigo a pertubá-lo, novamente não foi feliz no clássico. O Vasco cometeu 14 faltas, dez a mais que o rival. Acertou oito desarmes contra seis.

Para quem pensa que clássico não é jogo para a prática de bom futebol e sim de rivalidade à flor da pele deve ter sido agradável. Na prática foi de sangrar as retinas.

Melhorou na segunda etapa graças à postura mais ofensiva do Fla, que tinha o jogador desequilibrante: Everton Ribeiro. Meia que partia da direita para articular as jogadas e encontrou espaços às costas dos volantes reservas do adversário. Primeiro deixou Diego na cara do gol e o meia finalizou pessimamente.

No minutos seguinte acertou linda jogada pela direita e, como um ponteiro, centrou com o pé "ruim, o direito, na cabeça de Everton. Gol único de uma partida que voltou a cair o nível pela pressão vascaína sem qualidade e organização e o time rubro-negro preocupado em proteger a zaga fragilizada.

Apareceu então o segundo melhor homem em campo: o contestado Márcio Araújo, preciso nas coberturas, antecipações e desarmes. Fundamental para impedir a chance cristalina do Vasco, que finalizou nove vezes, mas apenas uma na direção da meta que Thiago evitou com bela defesa.

No total, 34 faltas. 21 do Vasco e 13 do Fla. No apito final, a revolta dos torcedores vascaínos com atos de violência que devem resultar numa punição ao clube com perda de mandos de campo. Mais uma cena comum num Rio de Janeiro falido em todos os sentidos.

O esporte novamente ficou em segundo plano. Na visão comum por aqui de que o clássico tem que ser mais brigado que jogado. Mais sentido que pensado. Mais truculento que disputado. Típico da cultura do mal jogar.

Não deixa de ser um paradoxo que Everton Ribeiro, o jogador mais cerebral em campo, tenha sido a diferença. Às vezes a qualidade prevalece.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.