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André Rocha

Com Levir Culpi, Santos cresce no modo "briga de rua": jogo de trocação

André Rocha

23/07/2017 13h41

O Santos de Dorival Júnior prezava posse de bola e troca de passes. Na reta final do trabalho de quase dois anos, o domínio era inócuo pela baixa efetividade da equipe que rodava, tocava, mas não finalizava e deixava a defesa exposta.

Levir chegou e não mudou o DNA ofensivo da equipe, algo até cultural no clube. Nas últimas partidas, incluindo os 3 a 0 sobre o Bahia, até arriscou mais encaixando Emiliano Vecchio no lugar de Thiago Maia, negociado com o Lille.

A execução do 4-3-3, porém, é vertical, direta. Não controla o jogo com a bola, ainda que seja o líder em posse e o segundo em acertos de passes na competição – muito mais pelo volume de jogo e pela vontade de atacar, dentro ou fora de casa, sem contar os altos índices nas quatro partidas ainda sob o comando do antecessor.

Também não há controle de espaços, com o time bem posicionado na fase defensiva. Por isso Vanderlei trabalha tanto e é o melhor goleiro da Série A. Assim como explica os muitos erros de Lucas Lima em lançamentos e cruzamentos. Força a assistência o tempo todo, buscando Kayke no centro do ataque ou os pontas Copete e Bruno Henrique jogando invertidos para infiltrar em diagonal.

O camisa dez tem só dois passes para gols – Bruno Henrique tem cinco. Mas é quem faz o time acelerar o tempo todo, agora com auxílio de Vecchio e a proteção de Yuri à frente da retaguarda.

O Bahia terminou o jogo no Pacaembu lotado com 51% de posse e 14 finalizações contra onze do time mandante. Mas Bruno Henrique aproveitou uma trinca de ações ofensivas rápidas, com pelo menos três santistas na área adversária para resolver a partida. O alvinegro praiano melhorou muito sua relação finalizações/gols: agora precisa de oito conclusões para ir às redes.

O Santos cresce e luta na parte de cima do Brasileiro no modo "briga de rua". Aposta na trocação, no jogo aberto acreditando na força de seu ataque e no momento espetacular de seu goleiro para derrubar os rivais.  Até porque o mantra atual do futebol nacional é não ficar com a bola e jogar em transições o tempo todo.

Não chega a ser um "Peixe Doido", como o Galo de Cuca que Levir herdou e manteve a intensidade no topo. Mas torna o time mais imprevisível e eficiente. Dorival caiu com uma vitória e três derrotas. Com Levir são oito triunfos, três empates e apenas um revés. 75% de aproveitamento que só ficaria atrás do líder Corinthians. Não é pouco.

 

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.