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André Rocha

Afastamento de Felipe Melo é mais um produto dos desencontros no Palmeiras

André Rocha

29/07/2017 10h00

Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

Felipe Melo não foi relacionado no grupo que vai concentrar para o jogo contra o Avaí no Allianz Parque. Este é o fato em meio a rumores de desentendimentos entre o volante e o treinador Cuca.

Felipe foi contratado em janeiro para ser uma liderança e também uma espécie de interlocutor e escudo diante da mídia para o trabalho do jovem Eduardo Baptista, cercado de desconfianças desde a apresentação. Aparentemente, o projeto era mudar a forma do Palmeiras jogar. Mais posse de bola, marcação por zona, controle dos jogos.

Com desempenho e resultados que não agradaram no Paulista e na fase de grupos da Libertadores, Baptista não resistiu. Se houvesse convicção lá atrás de que os princípios de jogo deviam ser preservados, bastaria contratar um profissional com perfil parecido.

Mas se a sombra de Cuca, que pediu para sair depois de ser aclamado pelo título brasileiro que o clube não conquistava há 22 anos, já era forte durante seu afastamento, ficou ainda maior quando se colocou à disposição para retornar. A torcida ansiava pela volta do "messias" e qualquer outro treinador seria esmagado da mesma forma.

Cuca voltou e com ele o estilo particularíssimo, de intensidade e marcação por encaixe e perseguições individuais. Para executá-la, prefere atletas mais rápidos, com vigor físico para marcar correndo. De preferência, que não questione as ordens e apenas as cumpra.

Felipe Melo não tem o perfil. Gosta de futebol, sabe como se atua nos grandes centros. Joga posicionado, fechando espaços. Aos 34 anos, conhece os atalhos. Além disso, tem personalidade forte e é articulado para expressar qualquer descontentamento. A lesão na coxa e a fratura na mão apenas adiaram o problema de ter um jogador contratado como estrela, mas descartado pelo velho/novo treinador por uma nítida incompatibilidade de estilos.

Agora, com o Palmeiras eliminado da Copa do Brasil, vendo as chances de título brasileiro cada vez mais remotas e com a tensão no nível máximo para o jogo da volta das oitavas de final da Libertadores contra o Barcelona de Guayaquil em São Paulo com obrigação de vitória, o descompasso virou um problema ainda maior. Felipe Melo não deve entender muito bem por que uma marcação que não vem funcionando é preservada e, por isso, ele seguirá fora dos planos. Até do banco de reservas.

Felipe Melo disputou apenas cinco partidas pelo Brasileiro e ainda pode disputá-lo por outra equipe da Série A. O alto salário é o obstáculo para quem não tem tanto poder de investimento.

Mais um problema para o Palmeiras em uma temporada conturbada, que foi pensada para construir uma hegemonia. Fruto dos desencontros de um departamento de futebol que parecia caminhar em uma direção e, hesitante, desviou a rota e retornou ao que considerava mais seguro. Mas no futebol não há certezas e o que resta em 2017 é um enorme ponto de interrogação. Como será o amanhã?

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.