Topo

André Rocha

Palmeiras perde 45 minutos e o ano com a essência do estilo de Cuca

André Rocha

10/08/2017 00h48

Mina lutou e chorou com a lesão que o tirou do jogo, Dudu tentou tudo e não resistiu fisicamente, Moisés entrou, fez golaço, sentiu e acertou sua cobrança na decisão por pênaltis no sacrifício. Não faltou entrega. Nem de Bruno Henrique e Egídio, os que erraram suas penalidades. O equívoco maior foi anterior.

Nos primeiros 45 minutos no Allianz Parque, o Palmeiras mostrou a essência do estilo de Cuca: intensidade máxima, marcação no campo de ataque, pressa para resolver as jogadas e muitos cruzamentos com bola parada e rolando. Várias alçadas desde a intermediária. Apenas quatro finalizações, nenhuma no alvo.

Porque não havia ninguém para pensar o jogo na execução do 4-2-3-1 montado. Thiago Santos protegendo a defesa, Bruno Henrique se mandando e Dudu se juntando a Roger Guedes, Deyverson e Keno. Ninguém parava a bola, mudava o ritmo. Pensava. O Palmeiras só sentia.

Não basta e Moisés deixou isso bem claro no segundo tempo. Os passes longos de um meio-campista surpreenderam o Barcelona de Guayaquil, que parecia preparado apenas para enfrentar o que o Palmeiras apresentou antes do intervalo.

O time equatoriano, bem montado no 4-4-2 e atacando pelos flancos com Ayovi e Caicedo, acabou traído pelo próprio desempenho pífio do adversário. No escanteio a favor, se lançou ao ataque sem maiores cuidados e permitiu o contragolpe letal que, é óbvio, teve muitos méritos de Moisés, que foi arco e flecha, completando a assistência de Dudu.

Até o fim, o jogo foi aleatório, no modo "briga de rua". Bolas nas traves de lado a lado, furada de Damian Díaz, o apagado meia argentino que praticamente atrasou para Jailson na única cobrança desperdiçada pelo Barcelona. Ainda assim, volta para Guayaquil com a vaga.

Porque o  que se convencionou chamar de "Cucabol" saiu derrotado, mas até quando vence faz menos do que pode. A vitória e a taça iludem, mas é triste ver um elenco que pode buscar um futebol mais bem jogado se reduzir a um estilo mais condizente com um repertório limitado. Nem sempre vai dar certo. Ou só vai funcionar eventualmente.

Não há consistência, porque a ligação direta e o cruzamento a esmo oferecem, na melhor hipótese para quem arrisca, 50% de chances para ataque e defesa. As perseguições individuais na marcação cansam os jogadores e desorganizam o próprio time. É um jeito anacrônico e contraproducente. Por isso as críticas pouco compreendidas no momento de alta.

Agora é fácil apontar os problemas. Inclusive para quem incensava, debochava das críticas e tratava como perseguição pura e simples. Pautado apenas pelos resultados. Uma hora a verdade se escancara. Os 45 minutos iniciais do Palmeiras são pedagógicos. Tempo jogado fora. Ano perdido.

Que fique a lição. Inclusive para Cuca, que pode aproveitar o momento para rever seus conceitos. As derrotas fazem crescer,  basta ter vontade e humildade para aprender.

(Estatisticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.