Topo

André Rocha

O golaço e o recado de Ramon na vitória para iniciar novo ciclo no Vasco

André Rocha

26/08/2017 18h22

Zé Ricardo estava no camarote, Valdir Bigode à beira do campo no comando interino. Um Vasco diferente com Nenê jogando mais solto no 4-2-3-1, Wagner pela esquerda e a surpresa: o argentino Andrés Rios no centro do ataque.

É possível atribuir a boa atuação cruzmaltina na vitória sobre o Fluminense por 1 a 0 à motivação natural pela mudança de treinador. Reservas que se motivam, titulares que não querem perder o lugar. Todos mais atentos e dispostos.

E o principal, dentro do contexto do Brasileiro: pôde jogar sem propor, ficar com a bola e ocupar o campo de ataque. Tarefa de um Fluminense em tese favorito antes da bola rolar, porém sem ideias para criar espaços. Armado por Abel Braga num 4-3-3 que tentava acelerar pelos flancos com os laterais Lucas e Léo se juntando a Wellington Silva e Gustavo Scarpa, que se alternavam nas pontas.

O problema era o meio-campo muito "duro", sem um passe diferente ou a condução com qualidade. Seja de Orejuela ou Wendel. Muito menos de Marlon Freitas, que junto com Lucas falharam ao deixar espaços para Ramon acertar um chutaço no ângulo de Julio Cesar.

Lateral vascaíno que na entrevista na saída para o intervalo foi certeiro ao ressaltar a necessidade de jogar futebol com mais naturalidade. Talvez fosse uma alfinetada ou indireta para Milton Mendes, mas numa análise macro do que se joga no país é algo fundamental e urgente. Fala-se muito em intensidade, garra, entrega, compactação sem bola, mas pouco em qualidade técnica.

O que novamente faltou ao Flu na segunda etapa. Abel empilhou atacantes: Peu, Matheus Alessandro e Romarinho nas vagas de Marlon Freitas, Lucas e Wendel. Mas só aos 36 minutos o artilheiro Henrique Dourado apareceu com bela jogada, mas finalização pífia. Sintomático em uma atuação decepcionante para quem vinha em recuperação no campeonato.

Do outro lado, Rios foi boa surpresa fazendo interessante trabalho de pivô e dando sequência às jogadas. Algo para Zé Ricardo considerar como opção para a formatação do ataque. Mesmo desperdiçando oportunidades com Guilherme Costa e Paulinho, os substitutos de Wagner e Nenê, o desempenho foi seguro. Sem maiores sustos.

Mais uma derrota de quem teve a posse, ainda que a diferença tenha sido pequena (52%). O Vasco foi mais objetivo, finalizou 19 vezes, dez a mais que o rival. E 24 desarmes certos, o dobro do Flu. Entrega e organização, com a simplicidade de Valdir Bigode. Boa herança para o novo treinador.

Vida nova para o Vasco, que terminou o clássico na primeira página da tabela. Graças ao golaço de Ramon. Que os recados do lateral dentro e fora de campo tenham sido bem entendidos por um Vasco que pode jogar mais e terminar 2017 sem sustos.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.