Topo

André Rocha

Vanderlei, Bruno Henrique e legado de Dorival explicam "milagre" do Santos

André Rocha

02/10/2017 05h56

Foto: Djalma Vassão (Gazeta Press)

A vitória sobre o Palmeiras no molhado Allianz Parque no sábado por 1 a 0 fez o Santos tomar do rival alviverde a condição, subjetiva, de principal desafiante do líder Corinthians. Ainda que o Grêmio tenha vencido e siga na luta, apenas um ponto atrás do alvinegro praiano. Mas com Libertadores e, provavelmente, pontos preciosos deixados pelo caminho utilizando reservas.

O time de Levir Culpi, de fato, é um mistério. Não chama atenção pela consistência defensiva, mas tem a segunda defesa menos vazada com 16 gols, um a mais que Corinthians. Muito menos pelo ímpeto do ataque, que só foi às redes 27 vezes em 26 rodadas.

O estilo não encanta as retinas. Não controla a disputa com a bola, embora seja o segundo em posse e o terceiro que acerta mais passes – 90,7% de efetividade. Nem os espaços, pois a coordenação dos setores não é tão acertada. O jogo é no modo "briga de rua" (como você já leu AQUI), com trocação de golpes até derrubar ou ser nocauteado.

Quando tentou ser mais estratégico para administrar o empate sem gols na Vila Belmiro contra o Barcelona de Guayaquil pelas quartas de final da Libertadores o desempenho e o resultado foram trágicos. Dominado, vencido e eliminado em seus domínios. O mesmo na ida das quartas da Copa do Brasil contra o Flamengo na Ilha do Governador. Derrota por 2 a 0 com postura mais cautelosa. Faltou um gol nos 4 a 2 em casa com o time no estilo "Peixe Doido".

O que explica, então, a eficiência no Brasileiro? Os números podem indicar algumas respostas.

Primeiro o goleiro Vanderlei. Quinto mais acionado da competição. Entre os times do G-6 só fica atrás de Cássio. Muitas intervenções fundamentais, tantos pontos garantidos. Não é absurdo dizer que a segunda defesa menos vazada está na conta dele. Porque na troca de ataques ele garante o zero do outro lado do placar.

Depois Bruno Henrique. Líder de assistências ao lado de Gustavo Scarpa com oito, a última na cabeça de Ricardo Oliveira para vencer Fernando Prass. Mais seis gols. Válvula de escape pelos flancos, especialmente à esquerda. Ponto de referência para as saídas em velocidade. O ponteiro que no Wolfsburg em 2016 fez Marcelo do Real Madrid sofrer  numa disputa de quartas de final de Liga dos Campeões. Não por acaso é quem mais acerta dribles na Série A. Não é atacante top, muito menos uma solução para  Tite na seleção brasileira. Mas por aqui vem desequilibrando.

A outra explicação é o legado de Dorival Júnior no cuidado que o time mantém com os passes. O elenco é praticamente o mesmo do antecessor de Levir e a posse garante volume de jogo, especialmente com Lucas Lima em campo. Toques certos que qualificam as ações ofensivas em meio à loucura do bate-volta. Com espaços, o time que rodava a bola para criá-los encontra mais facilidade para superar as defesas adversárias. A exigência de precisão agora é menor.

Qual o mérito de Levir no "milagre" santista? A capacidade de mobilização, o pragmatismo na busca dos resultados e a busca da velocidade, grande lacuna do time vagaroso e inócuo de Dorival na reta final de sua passagem pela Vila Belmiro. Assim como a leitura correta de que assumir protagonismo e se instalar no campo de ataque, no futebol brasileiro de hoje, é se tornar presa fácil para as equipes mais reativas.

Ah, e também a sorte, que nunca pode ser desprezada em qualquer jogo e está no irônico título do livro lançado pelo treinador em 2015: "Um Burro com Sorte?".

Sem outra competição para dividir esforços, o Santos vai tentar aumentar o aproveitamento de 60,3% e torcer por uma queda ainda mais acentuada do rendimento corintiano, hoje em 70,5%. Para tirar os oito pontos de vantagem e alcançar uma virada que seria histórica.

Contra si há o fato de não mais ter o confronto direto. Derrota em Itaquera, ainda com Dorival Júnior, vitória na Vila Belmiro no início de setembro. A favor, três trunfos que devem garantir ao menos o retorno ao principal torneio continental em 2018, diretamente na fase de grupos. Por mais incrível que possa parecer.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.