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André Rocha

Mais uma "decisão", outro "não jogo". Corinthians e Grêmio se anulam

André Rocha

18/10/2017 23h57

O futebol brasileiro está num labirinto. O discurso é de concentração máxima, erro zero. Não sofrer gol e na frente esperar um lampejo, a bola parada e, principalmente, o erro do adversário.

O "jogar simples" se resume a não arriscar. O fluxo de passes é sempre o mais óbvio e as equipes aceitam que o adversário induza a circulação da bola procurando o flanco para o cruzamento. O discurso de jogadores e treinadores é sempre o mesmo: "jogo decidido no detalhe", "quem errar menos vai levar vantagem".

Uma palavra tão brasileira neste esporte e na vida vem sendo esquecida: criatividade. Criar espaços através de tabelas, triangulações. O passe diferente que fura as linhas de marcação. O drible. Ou ao menos uma jogada pensada e treinada, como uma inversão de jogo que encontre o atacante no um contra um. Ou a movimentação para a infiltração que surpreende.

Se ninguém erra, nada acontece. Nos jogos decisivos, com todos ligados e o rival bem estudado e mapeado, há o "não jogo". Como foi Cruzeiro x Flamengo na final da Copa do Brasil. O mando de campo tem inflenciado pouco. No máximo na maior posse de bola.

Corinthians e Grêmio voltaram a competir com força. Intensidade, pressão no homem da bola, força mental. Diante da queda de desempenho recente, uma boa notícia. Mas para se impor faltou o talento. Faltou Jadson, autor do gol da vitória em Porto Alegre. Faltou Luan, de volta ao time de Renato Gaúcho.

O Grêmio, que precisava do resultado para uma última tentativa de aproximação na tabela,  teve a oportunidade mais marcante, com Edilson carimbando o travessão de Cássio. Na bola parada…No final, o cruzamento que Jael, substituto de Lucas Barrios, não concluiu com precisão.

É muito pouco. A rigor, as equipes se anularam. Na saída de campo, as mesmas justificativas, como se fosse normal. Algo inevitável. Não é. Desta vez a pausa foi de três dias, mas já foi de dez e a bola jogada por aqui não sai desse dilema: todo o esforço e estudo voltado para anular as virtudes do oponente, quase nada para potencializar as próprias vqualidades.

Mais um empate sem gols numa "decisão", com aspas porque não valia sequer a liderança na disputa por pontos corridos. Mais 90 minutos de indigência de ideias. Algo precisa ser feito. Para ontem.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.