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André Rocha

No Fla-Flu insano e continental, segue o mais forte nos clássicos cariocas

André Rocha

02/11/2017 01h21

O Fluminense se impôs no início com uma mudança tática que confundiu a marcação do rival: Marcos Júnior formando dupla de ataque com Henrique Dourado num 4-3-1-2 com Gustavo Scarpa centralizado. Por isso Trauco largou o seu setor para disputar com o meia tricolor e Lucas apareceu livre para abrir o placar.

Diego cumpriu sua melhor atuação com a camisa do Flamengo. Nem tanto pelo belo gol de falta que empatou o jogo pela primeira vez, mas pela movimentação mais inteligente, alguns toques de primeiro. Principalmente pela intensidade que colocou em cada lance.

Conduziu um time aguerrido como só se vê em clássicos estaduais. Principalmente os de caráter decisivo. Ainda mais em uma competição internacional. Mesmo quando Renato Chaves aproveitou vacilos de Filipe Vizeu e Willian Arão, um em cada tempo, para construir em cabeçadas uma vantagem de 3 a 1 difícil para um time que é pouco contundente – ou "arame liso" – e sem grande poder de reação ("pecho frio") conseguir reverter.

Mas não num Fla-Flu. Assim foi na final da Taça Guanabara, perdida nos pênaltis muito pelo "fator Muralha". De novo um 3 a 3. Outro jogo doido, um tanto aleatório. Reação que começou a ser gestada na entrada de Vinicius Júnior na vaga de Trauco. Everton foi para a lateral esquerda e a joia que fez o Real Madrid encher os cofres rubro-negros iniciou pela esquerda a jogada do gol de Vizeu, com bela assistência de calcanhar de Everton Ribeiro.

O suficiente para preocupar a empolgada torcida tricolor e reanimar a do Fla no Maracanã. Reinaldo Rueda colocou Paquetá na vaga de Cuéllar, que desta vez não foi bem. Vinicius Júnior foi para a ponta direita, Everton Ribeiro centralizou se juntando a Diego, Arão ficou na proteção à defesa que tinha Rafael Vaz no lugar de Juan, lesionado, e Paquetá se posicionou pela esquerda, mas abrindo todo o corredor para Everton. Nada muito organizado, mas com uma fibra que contagiou os torcedores.

Até a redenção de Arão. Um jogador que muitas vezes peca por dispersão e baixa intensidade, mas com presença de área importante para decretar os 3 a 3 que o Flu de Abel Braga não teve forças para mudar a história de mais uma eliminação em competições sul-americanas. Elenco jovem e limitado. Com Romarinho, Wendel e Pedro nas vagas de Marcos Júnior, Sornoza e Douglas, só restou a luta.

Pouco diante da experiência dos rubro-negros, que ganharam o tempo que puderam, especialmente Diego Alves. No último lance, Diego deixou de consagrar sua boa atuação completando em cima do xará Cavalieri bela assistência de Vinicius Júnior. O personagem a incendiar e mudar o Fla-Flu.

Que o Flamengo aprenda a repetir em duelos interestaduais no Brasileiro e internacionais na Sul-Americana, a partir da semifinal diante do Junior Barranquilla, a coragem, a entrega e a força mental que apresentou no clássico estadual. Deixar para trás de vez esse provincianismo de fazer questão de se impor apenas contra os rivais locais. Campeão carioca invicto, sem perder com os titulares em todas as competições, eliminando o Botafogo na semifinal da Copa do Brasil.

Algo que faz parte da cultura do futebol e que carrega o seu prazer e orgulho. Mas é pouco para o tamanho do investimento do clube e da paixão de sua gente.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.