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André Rocha

Virada do Flu na contramão do Brasileiro. Bota não soube jogar sem a bola

André Rocha

04/11/2017 22h21

Quando o Botafogo abriu o placar no Nilton Santos logo no primeiro minuto do clássico, a impressão seria de que o Fluminense sairia goleado. Primeiro pelo abalo de uma eliminação doída na Sul-Americana para o Flamengo, maior rival.

Depois porque o jogo ficava à feição para a equipe de Jair Ventura. Bastava recuar linhas, controlar fechando espaços e aproveitar os espaços cedidos por um adversário que normalmente não se caracteriza pela organização defensiva. Também falha individualmente, como no erro de Renato Chaves que gerou o contra-ataque que passou por Brenner e terminou na assistência de Rodrigo Pimpão para Marcos Vinícius ir ás redes.

Ou seja, seria mais um jogo típico deste Brasileirão: uma equipe faz o gol no erro do oponente, adota postura reativa e aproveita as transições ofensivas em velocidade. O Flu seria a vítima da vez. Time jovem, com confiança abalada.

Mas o alvinegro confundiu tranquilidade com passividade. Perdeu intensidade e passou a se defender mal, deixando brechas entre os setores. O tricolor só não aproveitou antes do intervalo porque faltou efetividade na frente: 63% de posse e dez finalizações, mas só uma no alvo. O Bota teve chances mais claras de ampliar. Duas conclusões na direção da meta de Diego Cavalieri num total de quatro.

Com o intervalo, a expectativa de que Jair Ventura fizessem os jogadores retomarem a concentração, mas a impressão era de que havia uma certeza de que o adversário não teria forças para reagir. Pulverizada com o chute no travessão de Gustavo Scarpa logo no primeiro minuto da segunda etapa.

O Flu seguiu ocupando o campo de ataque, rondando a área, mas sem criar espaços. Pois o Botafogo disperso e apático tratou de cedê-los. Primeiro num erro na saída para o ataque que permitiu que Henrique Dourado servisse Marcos Júnior para, enfim, a finalização precisa.

Depois, com as substituições, o Botafogo até ganhou mais fôlego e vigor físico com as entradas de Guilherme, Gilson e Vinicius Tanque nas vagas de Marcos Vinícius, Pimpão e Brenner. No melhor contragolpe, porém, faltou leitura de jogo a Guilherme para aproveitar a igualdade numérica contra a defesa adversária – quatro contra quatro.

Scarpa não desperdiçou quando recebeu livre à direita, arrancou em diagonal e, quando todos imaginavam a finalização de canhota, o camisa dez serviu com inteligência para o jovem Matheus Alessandro virar heroi. Revelado em um torneio de favelas, entrando na vaga de Richard para ocupar a lateral direita, com Mateus Norton, improvisado pelo lado, voltando ao meio-campo.

As entradas de Wellington Silva e Wendel nas vagas dos exaustos Marcos Júnior e Sornoza mantiveram a qualidade e o ritmo na transição ofensiva do Flu. O que falta em coordenação dos setores sobrou em coragem e capacidade de recuperação. A primeira virada do time no campeonato. Para aliviar a pressão e dar tranquilidade a Abel, que, por tudo que viveu, merece um final de ano ao menos com serenidade.

O Botafogo, que finalizou só uma vez na segunda etapa, sofre mais uma virada em casa nos últimos minutos. Contra São Paulo e Vitória pareceu mais desconcentração e cansaço depois de bons momentos na partida. Desta vez foi apenas a consequência de uma atuação que beirou o ridículo na maior parte do jogo.

Faltou competência para jogar sem bola. Uma raridade na competição.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.