Topo

André Rocha

Com Willian, Brasil ganha cara de Real Madrid de Ancelotti. Neymar é CR7

André Rocha

10/11/2017 12h00

O gol de Neymar na cobrança de pênalti sobre Fernandinho com ajuda do árbitro de vídeo (VAR) logo aos oito minutos descomplicou um início com Japão pressionando e tirando espaços de uma seleção com natural desentrosamento pelas seis mudanças em relação à base titular.

Mas o amistoso em Lille – sem estádio lotado por conta dos ingressos caros – teve sua utilidade exatamente porque a falta de tempo até o Mundial da Rússia faz com que Tite não trate como mais um compromisso e aproveite cada oportunidade de reunir os jogadores para fazer observações e experiências.

No primeiro tempo ficou bem claro que a equipe com Willian, que tem mais perfil de ponteiro que Philippe Coutinho, ganha uma cara mais de 4-3-3 do que 4-1-4-1. Em vários momentos foi possível notar os três atacantes bem adiantados em relação aos meio-campistas. Com uma variação: exatamente o recuo de Willian pela direita formando uma segunda linha de quatro.

Fernandinho, escalado na vaga e na função de Renato Augusto, trabalhou sem bola como uma espécie de "guardião" de Marcelo, abrindo pela esquerda para fechar os espaços e liberar Neymar, cada vez mais atacante em dupla com Gabriel Jesus. Ainda assim nervoso, perdendo a segunda cobrança de pênalti e levando um amarelo desnecessário em nova intevenção do VAR.

Em 2014, o ano "sabático" de estudos, Tite foi a Madri acompanhar o Real do amigo Carlo Ancelotti. Campeão da Liga dos Campeões daquela temporada. Time montado num 4-3-3 que variava para o 4-4-2 com Bale voltando pela direita, Di María no meio abrindo pela esquerda para ajudar Marcelo e dar liberdade a Cristiano Ronaldo.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Na cabeça de Tite, Neymar é Cristiano Ronaldo. O talento desequilibrante. Sem comparações, obviamente. Apenas o posicionamento mais solto e a importância para o time.

Os 3 a 1 valeram para rodar o time, ver que a disputa pela última vaga na defesa está aberta com a atuação hesitante de Jemerson, que falhou no gol de Makino. Também que a equipe muito mexida, com Diego Souza, Alex Sandro, Renato Augusto, Taison e Douglas Costa, sofreu na segunda metade do segundo tempo para conter os ataques japoneses.

Principalmente pelo terceiro gol, de Gabriel Jesus em bela trama coletiva. Desde a pressão na perda da bola no lado esquerdo até a inversão, a ultrapassagem de Danilo e a assistência do lateral do Manchester City que vai ganhando de Fagner a vaga na reserva de Daniel Alves.

O golaço de Marcelo usando o pé direito num petardo também foi válido para o lateral do Real Madrid, tão criticado, recuperar confiança e mostrar que os problemas do clube não o abalam com a camisa verde e amarela. Melhor assim.

Contra a Inglaterra, Tite deve escalar todos os titulares para um teste de peso. Mesmo com as muitas baixas do adversário é a primeira chance de enfrentar a escola europeia. Com o retorno de Coutinho a dinâmica ofensiva muda. Vejamos se Tite revela alguma surpresa. Quem sabe com o meia do Liverpool mais por dentro, como Isco no time atual do Real Madrid, comandado por Zidane?

Se assim for, Neymar continuará sendo o CR7 da seleção.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.