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André Rocha

Primeiro teste na Europa foi útil, mas não bom. Brasil titular foi lento

André Rocha

14/11/2017 20h24

Apesar da Inglaterra desfigurada com sete desfalques, o teste para a seleção de Tite foi útil pelo enfrentamento com uma seleção europeia. Mais ainda por encarar uma linha de cinco defensores, negando espaços para infiltrações pelo meio ou nas diagonais.

Mas não foi bom. O time considerado ideal e titular esbarrou na própria lentidão em Wembley. Não por falta de velocidade dos jogadores, mas da circulação da bola. Muito pelo comportamento dos jogadores, especialmente Neymar.

Quando Tite montou o trio ofensivo, pensou em Philippe Coutinho como articulador partindo do lado direito para circular às costas dos volantes e Neymar saindo da esquerda e infiltrando em diagonal para servir os companheiros ou finalizar. Como um atacante letal e vertical. Como era no Barcelona.

Mas agora, no PSG, Neymar é muito mais este ponta armador, conduzindo a bola para acionar Cavani e Mbappé. O problema de levar este comportamento para a seleção é que Coutinho, Neymar e Renato Augusto procuram a bola para o toque curto ou conduzir. Apenas Paulinho tenta infiltrar.

Para complicar, Daniel Alves e Marcelo, bloqueados pelos alas Walker e Bertrand, não buscavam o fundo. E Gabriel Jesus, atuando mais como pivô no Manchester City, também recuava para fazer a parede e não se deslocava para receber em velocidade. Até porque o trio de zagueiros Gomes, Stones e Maguire não deixava espaços às costas.

Por isso um primeiro tempo insosso. Também porque Marquinhos e Miranda, com o auxílio de Casemiro, controlou bem as investidas rápidas de Vardy e Rashford, o único a finalizar para a defesa de Alisson.

Melhorou na segunda etapa porque Neymar passou a guardar um pouco mais a posição pela esquerda. Mas ainda mais armador que atacante. De seus pés saíram os passes para Jesus que Coutinho, na sequência, concluiu sobre Hart, e Paulinho. As únicas jogadas em profundidade para finalização. Pouco.

Melhorou um pouco com Willian, Fernandinho e Roberto Firmino nas vagas de Coutinho, Renato Augusto – ainda o mais inteligente meio-campista, mas jogando uma rotação abaixo dos demais – e Jesus. Porque com Willian aberto à direita, Neymar ganhou espaço para articular por dentro. Firmino, inteligente, foi buscar a brecha deixada à esquerda. Faltou a jogada precisa, assistência e finalização para sair do empate sem gols.

Amistoso é para isso: observar e testar. O resultado é secundário. Tite viu o que não funcionou no teste tão esperado e vai levar as reflexões para as férias. Talvez mexa no time base para a volta em março. O certo é que vai precisar mudar a dinâmica. Porque a ideia inicial de trabalhar com seus jogadores como eles atuam em seus clubes não está mais casando as características.

A seleção ficou mais lenta, ou menos rápida. No futebol de mais alto nível entre as seleções vai sofrer.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.