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André Rocha

Flamengo com alma de clássico carioca num duelo continental. Como deve ser

André Rocha

24/11/2017 01h43

Indignação com a derrota ou resultado negativo. O que faltou ao Flamengo na maioria da temporada, menos nos clássicos cariocas – com exceção da única derrota para o Botafogo pelo Brasileiro utilizando reservas. O que vinha faltando principalmente em competições sul-americanas.

Não aceitar outro resultado senão a vitória foi o que moveu o time de Reinaldo Rueda no Maracanã com imperdoáveis espaços vazios, fruto da obtusa política de preços que pensa induzir o torcedor a virar sócio. Mas a virada por 2 a 1 sobre o Junior de Barranquilla na ida da semifinal da Copa Sul-Americana não seria possível não fossem as muitas falhas do adversário justamente na jogada mais eficiente dos rubro-negros em toda temporada, desde os tempos de Zé Ricardo.

A jogada aérea, com bola parada ou rolando. Podia ter acontecido com Vizeu ainda no primeiro tempo, completando cruzamento de Everton Ribeiro. Já com desvantagem no placar. E Alex Muralha em campo na vaga do Diego Alves, que sofreu fratura na clavícula após cometer pênalti não marcado sobre Jony González. Uma infelicidade tão grande quanto o primeiro ataque colombiano terminar em gol. Juan perdeu a disputa com Teo Gutierrez, passe de Mier nas costas de Pará e González rolando para Teo. O goleiro, frio e nitidamente inseguro, deixou passar o cruzamento.

Parecia que os visitantes repetiriam o passeio que deram no Sport em Recife nas quartas de final, mas abdicaram um pouco do jogo, recuando as linhas e esperando o contragolpe letal com o velocíssimo Yimmi Chará nas costas de Trauco. Não veio no primeiro tempo de 54% de posse do Fla e sete finalizações, mas nenhuma no alvo. O Junior concluiu quatro, duas no alvo e o gol único antes do intervalo.

Com oito minutos de atraso, Reinaldo Rueda trocou Mancuello por Vinicius Júnior. Nem tanto pelo desempenho do argentino, que finalizou duas vezes com perigo e tentou colaborar na articulação. Mas principalmente pela entrada de um atacante com característica semelhante à de Berrío e Everton. Até então o Fla não tinha uma referência de velocidade para lançamentos, que desse profundidade aos ataques.

Melhorou um pouco o desempenho, mas faltava criatividade, o passe diferente qualificado. Não veio de Everton Ribeiro, substituído por Lucas Paquetá. Muito menos de Diego, novamente um líder em campo, mas burocrático na articulação. O jogo do Fla não fluía mais uma vez. De novo o time que não dá liga, das peças que não encaixam.

Mas desta vez havia alma. E um recurso óbvio. Na fibra, no grito da torcida que respondeu à postura diferente da equipe e nos muitos cruzamentos – 41 no total, 22 na primeira etapa – a virada com Juan e Vizeu. Golaço do jovem centroavante completando no ângulo de Viera a assistência de Willian Arão. Comemoração no banco com Rhodolfo para se redimir da enorme bobagem que fez nos 3 a 0 sobre o Corinthians no domingo.

Virada e vantagem para a volta. Mas há muitas preocupações. Porque logo após o empate, o time de Barranquilla teve duas grandes chances, com Chará e Luiz Díaz, que substituiu Mier e centralizou Chará no 4-2-3-1. O treinador uruguaio Julio Comesaña pecou ao chamar demais o Fla para o próprio campo e confiar nos contragolpes que não encaixaram. Os visitantes sempre foram mais perigosos quando desceram em bloco, trocando passes no meio e acelerando pelos flancos.  Deve ser assim na Colômbia.

O Flamengo vai precisar de velocidade nas transições ofensivas – Everton deve retornar pela esquerda – e, principalmente, de concentração defensiva absoluta para não precisar tanto de Muralha. Um enorme desafio para quem deixou a Libertadores exatamente por não pontuar longe do Rio de Janeiro.

Se repetir longe da torcida o comportamento no Maracanã as chances serão maiores. Um time com alma de clássico carioca num duelo continental. Como deve ser.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.