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André Rocha

A César o que é de César, a Vizeu os gols do Flamengo finalista continental

André Rocha

01/12/2017 01h06

O Flamengo pecou por recuar demais, sem opção de velocidade para os contragolpes na execução do 4-3-2-1 – novidade tática de Reinaldo Rueda recuando Paquetá pela esquerda formando o meio-campo com Cuéllar e Willian Arão e deixando Everton Ribeiro e Diego atrás de Filipe Vizeu. Missão ainda mais complicada pelos muitos erros técnicos da dupla de articuladores, que não conseguiam acionar o atacante isolado.

Mas contou com um Junior Barranquilla nitidamente sentindo o peso do jogo. Com 64% de posse e dez finalizações, mas apenas uma no alvo no primeiro tempo. A equipe colombiana se precipitava nas ações de ataque, abusava dos cruzamentos – chegou a 36 no total – e dos chutes sempre que encontrava espaços. Com Chará insistindo muito nas jogadas individuais.

Ainda assim, o time mandante rondava a área e fez César trabalhar. O goleiro inscrito às pressas. sem jogar há dois anos e com a responsabilidade de substituir Muralha. Chute de Mier, defesa no reflexo. Para ganhar confiança e, mesmo sentindo câimbras pelo desgaste emocional no segundo tempo, aparecer com intervenções seguras até o ápice  defendendo a cobrança de pênalti de Chará.

Uma saga improvável que só o futebol é capaz de proporcionar. Méritos de César que não podem atenuar a enorme falha de planejamento da diretoria rubro-negra ao longo da temporada no que se refere aos goleiros.

Assim como o despertar de Filipe Vizeu depois da polêmica com Rhodolfo na vitória sobre o Corinthians não ameniza o gesto infeliz. Mas em Barranquilla o atacante aceso e disposto a lutar sozinho contra a defesa adversária e ainda ajudar na recomposição foi a diferença do Flamengo nos 2 a 0 que garantiram o time brasileiro na final da Copa Sul-Americana contra o Independiente.

Primeiro na arrancada desde a linha de meio-campo até tocar na saída de Viera. Força e velocidade. Depois a presença de área para receber o passe de Rodinei, que substituiu Paquetá, e, com seu terceiro gol no confronto, definir um triunfo para exorcizar os fantasmas da eliminação na Libertadores sem pontuar fora de casa.

Um time concentrado e intenso. Que acertou 28 desarmes e nunca demonstrou apatia ou temor, nem foi intimidado pela pressão dos donos da casa. Sofreu, permitiu ao adversário 21 finalizações, mas apenas cinco na direção da meta de César. Entrega de jogo decisivo.

Rueda nem precisou contar com Vinicius Júnior no segundo tempo para acelerar os contragolpes. O Flamengo já tinha seus dois herois vindos das divisões de base para fazer história. A César o que é de César, a Vizeu os gols do Flamengo finalista sul-americano depois de 16 anos.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.