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André Rocha

O que falta ao Flamengo para vencer além das fronteiras do Rio de Janeiro

André Rocha

14/12/2017 00h09

Mais uma vez em 2017 o Flamengo deixou uma vitória escapar por pequenos detalhes que fazem diferença, especialmente numa decisão.

Seja o problema crônico de não ter um jogo coletivo bem elaborado, com triangulações, ultrapassagens, trabalho de pivô…O time, com Zé Ricardo ou Rueda, vive fundamentalmente das jogadas aéreas. Com bola parada ou rolando. Foi assim com Réver em Avellaneda e de novo com Lucas Paquetá depois de uma cobrança de falta de Diego. Mais um gol do jovem atacante em decisão, assim como foi na ida contra o Cruzeiro na Copa do Brasil.

O "arame liso" também se fez presente no Maracanã. 56% de posse, 18 finalizações. Mas só três no alvo. Exatamente porque o time não cria a jogada surpreendente que facilita a vida de quem vai concluir. E quando Everton apareceu na frente de Campaña o chute não foi preciso. Numa final o time que precisa finalizar, em média, oito vezes para ir às redes vai sofrer mais. Cerca, mas para furar é difícil.

Com tantas dificuldades para ser contundente na frente, as falhas defensivas costumam custar caro. O pênalti de Cuéllar sobre Meza que Barco converteu para empatar e garantir o 17º título internacional do "Rei de Copas" foi um tanto duvidoso, mas não resta dúvida que o volante colombiano foi imprudente na disputa. Podia ter sido pior, se Juan não tivesse salvado falha grotesca de Réver que terminou na cavadinha de Gigliotti e o salto espetacular do zagueiro veterano.

O mais do mesmo seguiu com a falta de criatividade de Diego. O camisa dez não dá fluência às jogadas, sequer arrisca um passe rápido e vertical que fura a defesa, mesmo quando os companheiros dão opção. Só aparece na bola parada. E não tem a leitura para perceber que seria mais útil entrando na área para finalizar. Recua, prende a bola, atrasa a transição ofensiva e quase sempre toca de lado, para os laterais levantarem na área adversária. Um elo fraco rubro-negro ao longo da temporada. Impressiona como ainda tem o nome aventado para a lista final de Tite para a Copa do Mundo na Rússia.

O Fla do elenco milionário e experiente nos últimos minutos dependeu de Vinicius Júnior, Paquetá, Vizeu e Lincoln. Com Everton Ribeiro, principal contratação para a temporada, se arrastando e errando jogadas primárias. Uma prova de que a ida ao mercado não foi das mais felizes. O departamento de futebol segue devendo.

O Independiente foi melhor coletivamente nos 180 minutos e a mentalidade vencedora ajudou a construir os 3 a 2 agregado que garantiu o segundo troféu do torneio continental. Para o Flamengo restou novamente a frustração. Termina o ano apenas com a conquista do Carioca. Simbólico para mostrar que a reestruturação financeira e o maior poder de investimento não mudaram o patamar nos cenários nacional e internacional. O clube segue como o maior vencedor no estado, na competição menos relevante na temporada. E só.

Falta dar o salto de competitividade em alto nível. Ser forte e vencedor além das fronteiras do Rio de Janeiro deve ser a prioridade para 2018. A começar por priorizar a Libertadores e deixar um pouco de lado o campeonato tão valorizado em abril, maio…e esquecido no final da temporada. O ano foi de fracassos. Não tapar o sol com a peneira é um bom primeiro passo.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.