Você rejeitaria Tite depois da Copa do Mundo ou só vale para os "gringos"?
Reinaldo Rueda conduziu mal a saída do Flamengo para comandar a seleção chilena. Agora não vem mais ao caso, mas, observando à distância, havia várias maneiras, em tese, de ser mais transparente com o clube brasileiro.
Só que o caso de mais um treinador sul-americano deixando o país para aceitar uma proposta de seleção, se juntando a Osório, que saiu do São Paulo para o México, e Bauza, do mesmo clube para a Argentina, está construindo uma imagem de que os técnicos estrangeiros não cumprem contratos e usam o Brasil como "trampolim".
O nome disso, sem meias palavras, é xenofobia. Um pouco de reserva de mercado por parte dos treinadores daqui, tema que volta sempre que surge uma oportunidade. No caso de Rueda, na chegada e na saída – será por ter "tomado" um emprego tão cobiçado como ser o treinador do time de maior torcida do país?
Muito também pela visão de que treinadores de outros países do continente nada tem a acrescentar por aqui, enfrentam a barreira do idioma e não apresentam grande vantagem nos aspectos táticos e estratégicos. Talvez pela falta de tempo para trabalhar num calendário inchado, com imediatismo, resultadismo e pressão desproporcional. Os que já estão aqui se acostumaram com o ciclo. Para o "forasteiro" requer mais tempo.
Simplesmente não faz sentido. Principalmente a acusação de não cumprirem contrato. Quem cumpre? Os clubes, que demitem por qualquer sequência de resultados ruins? Como esquecer da demissão de Jorge Fossati do Internacional classificado para a semifinal da Libertadores de 2010? Ou Ricardo Gareca do Palmeiras, Diego Aguirre do Atlético Mineiro e Paulo Bento do Cruzeiro? Nem é questão de discutir cada caso, mas os clubes não hesitaram na hora de descartar os profissionais.
Os treinadores brasileiros, que cansados de levar um pé no traseiro agora deixam os clubes por qualquer proposta mais vantajosa estão errados também? Como Guto Ferreira, da Chapecoense para o Bahia e deste para o Internacional? Ou Fernando Diniz, sem disputar um jogo sequer pelo Guarani e partindo para o Atlético Paranaense?
Sem contar os casos dos brasileiros que saíram para seleções. Como Joel Santana em 2008, deixando o Flamengo para comandar a África do Sul que seria anfitriã da Copa do Mundo dois anos depois. Se pensarmos em "seleções" mundiais como o Real Madrid, como esquecer Vanderlei Luxemburgo abandonando o Santos campeão brasileiro em 2004 para comandar o Real Madrid?
E Tite? Ele mesmo admite e pede perdão ao Corinthians por ter "deixado o clube na mão" no ano passado para comandar a seleção brasileira. Não deixa de ser o mesmo caso: treinador que encerra seu contrato com um clube para acertar com uma federação. No caso, a CBF, entidade que o próprio Tite via com reservas e assinou manifesto de repúdio às suas práticas. E como ficou o ano do então campeão brasileiro, que já havia sofrido um desmanche no início da temporada?
Questão de ponto de vista. Este que escreve até discordou na época da decisão do melhor treinador brasileiro, mas depois compreendeu que era a realização de um sonho. O contexto também mostrou que acabou sendo melhor para a seleção, já que o risco de ficar de fora do Mundial era real.
Mas se ele deixar a CBF ao final da Copa da Rússia você ficaria com um pé atrás ou mesmo rejeitaria no caso do seu time de coração fechar contrato com Tite por ele não ter cumprido o acordo com o Corinthians? Foi exatamente o mesmo caso de Bauza, que foi servir ao futebol do seu país. Ou a crítica só vale para os "gringos"?
Rueda foi mal no fim do ciclo do Flamengo, mas daí a generalizar e rotular o caráter de profissionais estrangeiros vai uma distância enorme. Do tamanho do preconceito de tantas vozes que estão gritando desde o anúncio da saída do colombiano. Tudo muito conveniente.
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