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André Rocha

Apesar da crise, estreia indica que Abel deve manter Flu rápido e ofensivo

André Rocha

13/01/2018 00h27

O pior de uma crise profunda é quando a falta de confiança internamente parece maior que a de quem está de fora. Quem observa o Fluminense perdendo alguns jogadores e abrindo mão de outros por não ter condições de arcar com os custos não vislumbra um 2018 promissor.

A estreia no Torneio da Flórida aumentou esta impressão, principalmente pela escolha inusitada de Abel Braga, montando sua equipe num 5-3-2. Temendo um PSV muito alterado por Phillip Cocu. Mesmo considerando que o time holandês está no meio da temporada, com mais ritmo de competição, pareceu uma cautela exagerada.

Talvez Abel estivesse correto, com uma visão realista. Mas o que se viu foi uma equipe descoordenada no trabalho sem a bola. Na transição ofensiva os laterais Gilberto e Marlon demoravam a recompor a última linha obrigando os zagueiros a ficarem mais espaçados. Na proteção, Douglas e Richard permitiam espaços às costas e sofriam com a habilidade do brasileiro Mauro Júnior.

Para piorar, a saída para o ataque que precisa ser rápida e intensa não encontrava o passe vertical de Sornoza, muito menos a velocidade de Henrique Dourado para acompanhar Marcos Júnior. O Flu roubava a bola, mas não conseguia sair da pressão do adversário logo após a perda da bola e surpreender a defesa mais adiantada do Ajax.

De tanto insistir, o PSV abriu o placar com lindo gol de Sam Lammers. 20 anos, um metro e noventa, mas habilidade para limpar a marcação e técnica para tirar do alcance do goleiro Júlio César. Consequência natural da produção das equipes nos primeiros 45 minutos.

Na segunda etapa, as muitas alterações que descaracterizam qualquer amistoso, mas úteis no trabalho de observação e para dar ritmo à maioria dos jogadores. Funciona melhor para análises de desempenho individual.

Ainda assim, serviu para Abel notar que, mesmo com o elenco despedaçado, sem Diego Cavalieri, Lucas, Henrique, Wendel, Orejuela, Gustavo Scarpa e Wellington Silva, vale mais seguir o instinto do treinador e dos jovens atletas: um estilo mais leve, rápido e com vocação ofensiva. O Flu correu riscos, porém ocupou o campo de ataque com mais volume, especialmente pela direita com Matheus Alessandro. O grande destaque  que acabou saindo contundido.

Robinho, outro que entrou na segunda etapa, compensou com mais um golaço no jogo. Saída em velocidade, troca de passes, mais gente na frente e a bela conclusão do ponteiro. Empate e derrota nos pênaltis por 5 a 4. Romarinho foi o único a desperdiçar sua cobrança.

O resultado foi o menos importante. Valeu mais para Abel iniciar o trabalho de reconstrução da equipe. Mesmo em meio ao caos e ao pessimismo pelas sérias dificuldades financeiras que devem fazer o clube perder também Henrique Dourado, o Flu sempre rende melhor tentando jogar. Mesmo correndo riscos. Ainda que falte confiança dentro e fora do campo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.