Há tanta coisa errada no São Paulo que Dorival não pode ser o único culpado
Um clube está errado em sua gestão de futebol quando aposta todas as fichas no maior ídolo recém aposentado para ser o treinador na fé de funcionar como um escudo para a instabilidade política ou o fenômeno que em sua primeira experiência na nova função vai reproduzir fora do campo a excelência e as conquistas que alcançou dentro;
Uma direção está mais que equivocada quando começa a tomar decisões políticas e populistas recrutando craques carismáticos de tempos gloriosos como se num passo de mágica estes transferissem a mentalidade vencedora e a qualidade como atleta. Pela simples presença;
Uma instituição se perde quando não se nota mais sua identidade, a imagem construída ao longo de décadas que faz todos os agentes atuarem dentro de uma linha de conduta sintonizada com os próprios valores. Organização e força competitiva.
O São Paulo hoje é um clube morno. Não encontrou o fundo do poço para buscar a redenção, mas também não há uma força motriz para voltar a ser forte. Muito menos temido. Entrou no bloco médio do futebol brasileiro – aqueles que ora flertam com vaga na Libertadores, ora sofrem com a sombra do Z-4 e do rebaixamento.
Torcida, dirigentes, dirigentes-torcedores, imprensa, jornalistas-torcedores…todos olham para trás em busca de uma referência em um futebol que na prática não existe mais. Nem o de Telê Santana, nem o de Muricy Ramalho. O esporte evoluiu e é preciso se adequar, não buscar fórmulas que deram certo em outros contextos.
Mas é mais fácil descontar no treinador. Logo ele que sucedeu Rogério Ceni. Com imagem mais associada ao Santos pela carreira e ao Palmeiras pelo passado como jogador e laços familiares. Dorival Júnior recebeu um legado complexo. Há tanta coisa errada que ele não pode ser o único culpado.
Mas tem sua cota de responsabilidade. Inegável. Em 2018, particularmente, por abandonar o planejamento inicial de usar mais reservas e jovens da base no início do Paulista para buscar aos poucos o ajuste da equipe. Com a derrota na estreia para o São Bento cedeu às pressões dos que se contentam com o estadual para acabar com a seca de títulos desde a Sul-Americana de 2012 e queriam os titulares o mais rápido possível.
Depois Dorival errou ao virar as costas para sua essência. Em toda a sua trajetória conseguiu bons trabalhos com times jovens, rápidos e envolventes. O que se vê em campo é uma equipe lenta, que pena para abrigar Nenê e Diego Souza em um quarteto ofensivo. Jogadores que hoje precisam de uma dinâmica em função deles pois entregam pouca intensidade com e sem a bola. Com eles juntos o tricolor está vagaroso, apesar dos esforços de treinador e atletas para buscar o encaixe.
A proposta de Dorival de ter a bola não conta com o momento de aceleração no terço final do campo. Pior: defensivamente as falhas são grotescas de um conjunto frágil que expõe a retaguarda que joga adiantada. Sem pressionar o adversário com a bola é letal. E o São Paulo morreu em Itu nos 2 a 1 que não complicam a situação na tabela do Paulista, mas alimentam o clima bélico, de caça às bruxas.
Cueva fez o gol são-paulino, é um dos poucos a tentar colocar velocidade nas transições ofensivas. Mas pelos problemas disciplinares do começo do ano e pelo pênalti perdido no último lance em Itu deve ser o bode expiatório da vez. O vilão de uma história sem mocinho.
Péssimo retrospecto nos últimos clássicos estaduais, ver os rivais Palmeiras e Corinthians vencendo as principais competições do país e o Santos até o ano passado dominando o Paulista. Não é um cenário agradável para a autoestima do são-paulino. A pior notícia é que ele mesmo não se ajuda para sair de uma crise que parece ter feito o clube perder o norte.
Hoje os dedos apontam para só um culpado. Quem será o messias da vez para a missão inglória e quase impossível de consertar tantos erros acumulados?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.