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André Rocha

Champions: é justo avaliar a temporada por um torneio que envolve sorteio?

André Rocha

15/03/2018 14h52

Foto: UEFA

Amanhã acontecerá em Nyon o sorteio das quartas-de-final da Liga dos Campeões. Real Madrid, Barcelona, Sevilla, Juventus, Roma, Manchester City, Liverpool e Bayern de Munique estarão nas bolinhas que definirão o destino de cada um.

Imaginemos um hipotético confronto Barcelona x Manchester City. Se o time de Messi ficar pelo caminho diante da ótima equipe de Pep Guardiola em confrontos parelhos e o Real Madrid, por exemplo, encarar a Roma ou o Sevilla e seguir adiante até a conquista do inédito tricampeonato na Era Champions, a temporada do argentino, mesmo com o provável título espanhol e a conquista da Copa do Rei, poderá ser tachada de fracassada? De novo as premiações individuais irão para Cristiano Ronaldo pelo simples fato de ter vencido o principal torneio de clubes do planeta?

E se Guardiola novamente for derrotado pelo time catalão, como aconteceu em 2015, sua jornada fantástica nos citizens com o título da Copa da Liga Inglesa e a conquista cada vez mais próxima da Premier League com uma campanha histórica carregará essa mancha? Por ter sido superado pela equipe que tem apenas uma derrota na temporada?

No jogo em si, o "se" é parte apenas da imaginação e sempre envolve competência no gol perdido, na falha do goleiro. Até a lesão muscular do craque do time, em tese, poderia ser evitada com uma avaliação melhor do departamento de fisiologia do clube. O sorteio, não. É sorte apenas. Ou a falta dela.

Voltemos à 2016. Um Real Madrid ainda hesitante no desempenho na transição de Rafa Benítez para o estreante Zinedine Zidane enfrentou Roma, Wolfsburg e Manchester City até a repetição da final de 2014 contra o Atlético, rival de Madri. Venceu e ganhou confiança e moral para no ano seguinte ganhar o espanhol e a Champions passando por Napoli, Bayern de Munique e Atlético de Madri até a decisão contra a Juventus.

Imaginemos que o roteiro fosse o inverso. aquele Real de 2016 encarando o Bayern de Guardiola nas quartas-de-final. Com o time alemão mais maduro no comando do treinador catalão e sedento por vingança da surra que levou na semifinal de 2014?

Será que passaria? Nunca saberemos. Mas é certo que o caminho diante de adversários menos tradicionais foram obstáculos menores à chegada à decisão. E olha que contra o time alemão foi preciso virar um 2 a 0 e contra o City foram duelos parelhos definidos no detalhe e com a vantagem mínima.

Nesta mesma temporada, se as bolinhas colocassem o City e não o Atlético de Madri no caminho de Guardiola e seu Bayern de Munique, haveria, sim, a saia justa do treinador enfrentar a equipe com que estava acertado para trabalhar a partir da temporada seguinte. Mas as chances de chegar à decisão e buscar o título que faltou na passagem pela Baviera aumentariam exponencialmente.

Todos esses exercícios de mexer com as bolinhas e tentar adivinhar o desfecho podem ser estendidos a todas as temporadas. A partir das quartas, já que nas oitavas ao menos a colocação na fase de grupos é levada em campo. Continua sendo imaginação. O que aconteceu, obviamente, é o que está na história.

A questão é: ainda que seja o torneio que reúne o melhor do futebol mundial é justo ganhar um peso tão grande, ultimamente maior do que a Copa do Mundo, para avaliar equipes e jogadores? A impossibilidade de todos se enfrentarem em ida e volta não deveria ser levada em conta na hora de avaliar os desempenhos coletivo e individual?

Apenas uma reflexão. Pois, na prática, quem quiser terminar a temporada no topo do planeta bola terá que superar o que aparecer pela frente. Cristiano Ronaldo, Messi, Ben Yedder, Buffon, Dzeko, Salah, De Bruyne e Lewandowski. Os treinadores. Todos à expectativa do sopro da ventura na Suíça.

O amanhã pode sinalizar com força o caminho até 26 de maio no Estádio Olímpico de Kiev.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.