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André Rocha

A perna quebrada de João Paulo e as "regras não escritas" da arbitragem

André Rocha

18/03/2018 22h40

Dois minutos de jogo no Estádio Nílton Santos. Rildo quebrou a perna direita de João Paulo. Sem eufemismos ou desculpas. Movimento de cima para baixo, com velocidade e intensidade. Pode não ter sido intencional, mas o atacante do Vasco assumiu o risco de agredir um colega de profissão.

Muitos ex-árbitros hoje comentaristas, muitas vezes en passant  numa colocação, costumam dizer que os apitadores evitam expulsar no início de um clássico para "não estragar o espetáculo". Ou seja, uma decisão costumeira que não consta nas regras do jogo. É bem possível que o árbitro Leonardo Garcia Cavalheiro tenha seguido o "conselho".

Ou talvez porque o meia não estivesse gritando de dor e os colegas não colocassem a mão na cabeça em desespero, já que a fratura na tíbia e na fíbula não foi exposta. Como já se ouviu também dos comentaristas que quando a reclamação é geral e acintosa é porque houve alguma irregularidade. O árbitro e sua equipe estão lá para quê, afinal?

O fato é que apenas o cartão amarelo foi aplicado. Na TV, sem necessidade de replay, foi possível notar a gravidade da entrada e da lesão. Era para expulsar direto. Sem conversa. E punição exemplar, de preferência ficando de fora dos gramados pelo mesmo período de tempo do agredido.

Rildo seguiu em campo e ficou visado, não só pela torcida do Bota que vaiava cada vez que o ponteiro pegava na bola. Os jogadores do Botafogo passaram a entrar mais duro no adversário e, aos 18 minutos, veio o choque com Marcinho que provocou a luxação do ombro esquerdo e obrigou o atacante a deixar o campo.

Só que o Vasco seguiu com onze homens em campo. Entrou Paulinho, joia da base que marcou o gol da vitória do time cruzmaltino por 3 a 2. Sobre a equipe de Alberto Valentim que falhou grosseiramente no bloqueio defensivo, mas sofreu demais sem o organizador, o "ritmista" de seu meio-campo. O Botafogo perdeu bem mais sem seu camisa oito. O mínimo para tamanho prejuízo seria enfrentar o adversário com um homem a menos. É para isto que existe o árbitro.

Tudo muito desnecessário. Por causa dessas "regras não escritas" da arbitragem para contemporizar e não se comprometer. Infelizmente, isto nem o VAR poderá evitar. Pior para o futebol.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.