Flamengo é administrado pelas redes sociais e não pode ser levado a sério
O "se" não existe no futebol nem na vida. Mas vale a reflexão: se a cabeçada de Henrique Dourado no segundo tempo que bateu na trave direita de Jefferson tivesse entrado e o Flamengo se classificado para a decisão do Carioca com o empate haveria essa "limpa" do departamento de futebol do clube?
O cenário seria previsível. Muitos torcedores reclamando de mais uma péssima atuação coletiva, mas a maioria ironizando a provocação de Luiz Fernando no gol do Botafogo e replicando os memes tradicionais depois de um jogo importante no futebol brasileiro.
E Rodrigo Caetano, Paulo César Carpegiani, Mozer, Jayme de Almeida, Rodrigo Carpegiani e Marcelo Martorelli seguiriam tranquilamente o seu trabalho pensando na final. Ou seja, uma derrota que tirou o time do torneio menos relevante da temporada foi o que, na prática, deflagrou um processo de reformulação mais profunda no carro-chefe do time mais popular do país.
Algo que já deveria ter ocorrido há algum tempo, mas como foi campeão carioca e chegou a duas finais ficou a impressão de que estava tudo indo bem e era questão de ajustes para a temporada 2018 ser consagrada pelos títulos importantes que prometeram à torcida depois que as finanças estivessem equilibradas.
É óbvio que há um componente político em ano de eleição e a gestão atual, acusada justamente por seu imobilismo, precisa do futebol competitivo para Bandeira de Mello fazer seu sucessor. Mas agora ficou ainda mais claro algo que já chamava a atenção de quem acompanha o cotidiano do clube.
O futebol do Flamengo é administrado pelas redes sociais. Um termômetro importante, mas que não pode ser tão considerado nos processos decisórios. No entanto, definiu contratações como Diego Alves e Reinaldo Rueda. Goleiro e treinador que vieram na carona das críticas contra Muralha e Zé Ricardo e empurraram os indecisos cartolas para uma solução.
Há uma distorção no Brasil quando o assunto é torcedor. Criou-se o mito de que ele é que manda no clube porque o sustenta com sua paixão. Indo ao estádio, comprando camisas e pagando pay-per-view. Inegável a importância. Mas o fanatismo não pode ser a cabeça em lugar nenhum. Ainda mais na nossa cultura guiada apenas por resultado e, a partir dele, se avalia desempenho.
Quer um exemplo? Em junho do ano passado este blog abordou a falácia de que Diego era o meia criativo do Flamengo. O "homão da porra" para a torcida à época. Poupado das críticas pela eliminação da Libertadores por ter ficado de fora, lesionado. O blogueiro foi massacrado nos comentários e nas redes sociais.
Só com o pênalti perdido na final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro e outras atuações ruins em partidas decisivas sem levar a equipe aos títulos esperados é que os apaixonados acordaram para a realidade. Alguns ainda negam, valorizando o esforço de quem é muito bem remunerado para pensar o jogo e desequilibrar. Mas só com derrotas parte da massa despertou para o óbvio. Mesmo que o rendimento do meia desde a volta de lesão no ano passado tenha sido, na média, bem abaixo do que se esperava para um camisa dez com tanta grife e salários tão altos.
Por isso quem está de fora não pode definir quem fica e quem sai. Nem torcida, nem jornalistas. Se alguma decisão foi tomada apenas pela influência de uma crítica ou elogio de um analista também está errado. O futebol precisa ser guiado por quem entende todos os processos e conta com as ferramentas para avaliar dia a dia e jogo a jogo o desempenho, dentro e fora de campo.
E agora? Vão definir os substitutos dos demitidos em enquetes na internet? Este que escreve não duvida mais de nada.
O Flamengo se vangloria de ser o clube com mais interações nas redes. Para manter a massa participativa dá mais ouvidos do que deveria e, sem um mínimo de racionalidade, parece um barco à deriva. No futebol e na vida, quem precisa de alguém de fora para gerir a sua casa não pode ser levado a sério.
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