Será que Guardiola "pirou" de novo em um jogo grande de Champions?
Nos livros "Guardiola Confidencial" e " A Evolução", o autor espanhol Martí Perarnau descreve o trabalho de Pep Guardiola na preparação do Bayern de Munique para os jogos ao longo das temporadas. Observação, estudo, reuniões com auxiliares.
Nesta descrição um detalhe chamou a atenção nas duas obras: nos jogos em que foi eliminado na Liga dos Campeões, o treinador ficou obsessivo pelos adversários em busca de soluções para surpreendê-lo. Pilhado demais, como ele mesmo admitiu, mudou sistema, time e/ou proposta.
Contra o Real Madrid em Munique armou o time bávaro praticamente num 4-2-4 e deixou espaços generosos para os contragolpes da equipe merengue; diante do Barcelona do trio MSN no auge, iniciou com três defensores atentos aos atacantes adversários em busca de superioridade no meio-campo; contra o Atlético de Madri, a aposta em um time de posse de bola fora de casa para controlar o jogo, mas sem contundência na frente. Três derrotas que custaram caro. Uma passagem sem concretizar o grande sonho do clube: voltar a vencer o maior torneio de clubes do mundo e encerrar o domínio espanhol.
Agora no Manchester City. Na temporada passada, período de adaptação e a eliminação para o Monaco nas oitavas de final. Surpresa e decepção para os citizens, mas não exatamente um confronto que tirasse o sono do treinador catalão. Já na edição 2017/18, um duelo inglês contra o Liverpool pelas quartas de final depois de despachar o Basel na fase anterior.
Mais um embate com Jurgen Klopp, que quase sempre impõe dificuldades aos times de Guardiola com a intensidade máxima e a marcação obsessiva no campo de ataque, tão logo perde a bola. Era óbvio que no Anfield Road o treinador alemão repetiria a fórmula, até pelo sucesso na última partida entre as equipes: 4 a 3 em Liverpool. A única derrota do City na Premier League.
O que fez Guardiola? Nem Sterling, nem Bernardo pela direita. A opção por Gundogan, armando um losango no meio-campo com Fernandinho plantado e David Silva mais adiantado. Deixando Walker isolado pela lateral, na defesa e no apoio. Entregue à própria sorte. Do lado oposto, a escalação do fzagueiro francês Laporte mais fixo no setor por onde circulava Salah, o grande destaque individual dos Reds na temporada. Um defensor mais lento, sem muitos minutos como titular e rodagem.
Alguém entendeu? Talvez tenha sido a obsessão de gerar superioridade numérica no meio-campo para controlar o jogo através da posse de bola e sofrer menos. Mas em um jogo naturalmente tenso, com um componente emocional muito forte e fora de casa, tirar a naturalidade do time na execução do seu modelo de jogo não parecia uma boa solução.
Não foi. Até pela competência do Liverpool no "perde-pressiona". Poucos times no mundo viram a chave tão rapidamente e mudam o comportamento coletivo de construção de jogadas para a busca do desarme ou interceptação no campo de ataque. Sem contar a movimentação de Roberto Firmino às costas de Fernandinho, como um autêntico "falso nove" no 4-3-3 do time da casa.
Com o lateral Robertson voando com Mané para cima de Walker e Salah buscando o centro do ataque em movimentos precisos complicando Laporte, o Liverpool abriu 3 a 0 em 30 minutos. Salah, Oxlade-Chamberlain e Mané. Três das quatro finalizações na direção da meta de Ederson, num total de oito contra três do City, que teve 56% de posse e 79% de efetividade nos passes. Mas não finalizou no alvo em 45 minutos.
Faltou contundência na segunda etapa quando impôs seu estilo aproveitando o cansaço do oponente e a lesão de Salah. Guardiola demorou, mas corrigiu ao menos o problema pela direita com a óbvia entrada de Sterling na vaga de Gundogan. Seguiu forçando demais o jogo pela esquerda com Sané e criou algumas situações, mas o virtual campeão inglês parecia sem confiança. Jogadores errando mais que o habitual.
Talvez fosse o tamanho da partida. Ou a insegurança de Guardiola na montagem da equipe. Será que o treinador "pirou" de novo em um jogo grande de Champions? Só saberemos se Pep contar a Perarnau ou a outro jornalista os seus conflitos antes da partida.
Seja como for, o Liverpool vai a Manchester com vantagem considerável. Mas não definitiva. Porque o City jogando ao natural em seu estádio tem qualidade e volume de jogo para reverter. A dúvida é se outra novidade pode surgir da mente do inventivo comandante para tirar o próprio time do eixo. Quem vai saber?
(Estatísticas: UEFA)
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