Topo

André Rocha

Real Madrid se sai melhor que o Liverpool nos clássicos antes de Kiev

André Rocha

07/05/2018 07h12

Havia muito em jogo para Real Madrid e Liverpool contra Barcelona e Chelsea, respectivamente, na reta final das ligas nacionais, impedindo que os times pudessem se dedicar exclusivamente à final da Liga dos Campeões no dia 26 em Kiev.

Para os Reds era a chance de confirmar a vaga na próxima edição do principal torneio do continente. No Stamford Bridge contra um adversário direto na Premier League. Já o time merengue entraria no Camp Nou com a missão de impedir o título espanhol invicto do rival Barcelona e ainda "carimbar" a despedida de Iniesta do clássico.

Tirando tudo que foi desnecessário no duelo entre os últimos campeões espanhois e europeus, desde o Real se recusando a recepcionar em campo o adversário que confirmou a conquista na rodada anterior até as brigas, chutes e pontapés que tiraram muito da beleza de um jogo sempre especial, não é absurdo dizer que a equipe de Zinedine Zidane deu mais uma demonstração de força.

Por iniciar pressionado pela dupla Messi-Suárez mais acesa que o habitual e pelo gol do uruguaio logo aos nove minutos em saída rápida bem engendrada com assistência de Sergi Roberto. Mas responder rapidamente com jogada coletiva ainda mais bela: calcanhar de Cristiano Ronaldo para Kroos, centro do alemão para Benzema preparar e o gênio português finalizar a obra que iniciou. O 25º do vice artilheiro da competição.

Real com uma "velha novidade" de Zidane: o trio "BBC", fazendo a variação do 4-3-3 para as duas linhas de quatro sem a bola com o recuo de Gareth Bale pela direita. Na transição ofensiva, muita movimentação dos três, enchendo mais a área adversária. Ao menos por 45 minutos, já que Cristiano Ronaldo, por precaução, teve que sair no intervalo, substituído por Asensio.

Não só porque sentiu uma entrada dura, aparentemente maldosa, de Piqué justamente no lance do gol que empatou a disputa. Também por conta da pancadaria que tomou conta do jogo, muito mal conduzido pelo árbitro Alejandro José Hernandez, que culminou na expulsão de Sergi Roberto, que ingenuamente agrediu Marcelo na frente do juiz.

Desta vez o Real pode reclamar muito das decisões da arbitragem. Principalmente pela falta clara de Suárez na disputa com Varane que terminou no golaço de Messi quanto na falta dentro da área do Barça não menos nítida de Jordi Alba em Marcelo. Podia ter mudado o clássico e complicado a vida e a invencibilidade do time da casa muito mais que o golaço de Bale, completando assistência de Asensio. Foram 17 finalizações contra 11 do time blaugrana.

Mesmo com os 2 a 2, a força mental e a cultura de vitória se fizeram presentes. O desempenho geral também foi satisfatório. Confirmando algo que já virou senso comum: é difícil superar este Real Madrid em jogo grande.

O Liverpool também costuma crescer neste tipo de confronto, mas não foi o caso do duelo em Londres. Porque o time de Jurgen Klopp, ainda que mantenha a proposta ofensiva longe do Anfield Road, não consegue reproduzir o "arrastão" num ciclo de pressão pós-perda, acelerar a circulação da bola e acionar o seu trio de ataque.

Salah, Firmino e Mané também pagam um pouco o preço do sucesso e da visibilidade. Estão mais estudados e, consequentemente, vigiados em campo. Ainda mais contra o time de Antonio Conte com sua linha de cinco defensores e mais Kanté e Bakayoko na proteção.

Deram algum trabalho ao goleiro Courtois na primeira etapa, mas nos minutos finais apelaram para os muitos cruzamentos procurando Solanke, que entrou na vaga do lateral esquerdo Robertson, e o zagueiro Van Dijk, que se transformou em um segundo centroavante. Sem ideias, sem brilho. Os torcedores podem até desdenhar, mas quando os espaços diminuem o fato é que Philippe Coutinho faz muita falta aos Reds.

Assim como a equipe se ressente de uma maior solidez defensiva, especialmente pelo alto. No centro da direita, Giroud subiu mais que Lovren para marcar o gol único do duelo, ainda no primeiro tempo. Na ausência do lesionado Oxlade-Chamberlain, Klopp deixou Henderson no banco e arriscou uma formação com Alexander-Arnold formando o meio-campo com Wijnaldum e Milner e Clyne entrando na lateral direita. Podia ter sido melhor.

Apesar dos 68% de posse, foram apenas dez finalizações dos visitantes contra 12 dos Blues, que também foram superiores em desarmes e no jogo aéreo. Resultado coerente com o que foi a partida disputada com a intensidade típica do Campeonato Inglês.

Agora é obrigatório vencer o Brighton em Anfield para chegar aos 75 pontos e garantir ao menos a quarta colocação. A menos que venha a apoteose na Ucrânia com o sexto título da Champions. Depois de onze anos sem chegar a uma decisão e treze da última conquista.

Missão que já era complicada por enfrentar o atual bicampeão e maior vencedor da história. Depois dos clássicos fica a impressão de que a tarefa ficou ainda mais difícil.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.