Topo

André Rocha

No Vasco rachado pela política, só a base pode salvar o futebol

André Rocha

08/05/2018 10h44

A eleição do presidente Alexandre Campello via Conselho e desrespeitando os votos dos sócios, que elegeram Julio Brant n polêmica eleição da já folclórica "urna sete", foi uma das páginas mais negras da bela história de democracia e raízes populares do Clube de Regatas Vasco da Gama. Do estádio construído por sua gente, dos jogadores negros e de tantos gestos pioneiros.

É óbvio que criaria um racha político de consequências imprevisíveis. No poder, o lado mais fraco. Eleito pelas circunstâncias. Para Eurico Miranda perder, mas não permitir que Julio Brant vencesse. Um filme de terror que já teve renúncia de 13 vice-presidentes, agora acena até com possibilidades de impeachment de Campello, questionado pela negociação pouco transparente, segundo conselheiros, de Paulinho com o Bayer Leverkusen e por um suposto empréstimo feito com o ex-vice de patrimônio, Luiz Gustavo.

Estava claro também que tanta turbulência somada à crise financeira respingaria no campo. Ainda que Zé Ricardo tenha feito tudo para blindar seus comandados. Chegar à final do estadual e passar pelas etapas preliminares da Libertadores até sinalizaram a possibilidade de repetir o bom desempenho da reta final do Brasileiro de 2017.

A fase de grupos do torneio continental, porém, trouxe a realidade crua e dura na eliminação precoce com derrotas para Racing, Cruzeiro e Universidad de Chile na pior campanha do clube na competição até aqui. A retaguarda considerada sólida penou com três goleadas por 4 a 0 – Jorge Wilstermann, Racing e, a pior, para o Cruzeiro dentro de São Januário.

Restam Brasileiro e Copa do Brasil. Dentro de um elenco limitado e com a baixa de Paulinho sem reposição à altura, resta a Zé Ricardo deixar de lado uma prática que vem de sua primeira experiência no futebol profissional vindo da base do Flamengo: relegar os jovens a um papel secundário e escalar os mais experientes que deram sustentação ao seu início de trabalho. Antes a "gratidão" ao esforço de Gabriel que negou oportunidades a Lucas Paquetá.

Agora o treinador tem obrigação de dar mais minutos em campo aos jovens Caio Monteiro e Bruno Cosendey, protagonistas da virada sobre o América por 4 a 1 no sábado em São Januário. Não repetir o que fez com Ricardo Graça, de desempenho promissor nas primeiras oportunidades e infeliz como o time todo na goleada sofrida na Bolívia.  Automaticamente ficou atrás de Paulão e Werley na disputa por uma vaga na zaga.

As divisões de base são a tábua de salvação do Vasco neste momento. Tanto no retorno técnico em campo dentro de um elenco desigual e longe da primeira prateleira do futebol nacional quanto na possibilidade de negociação no futuro para salvar os cofres na caixa preta que é a gestão financeira a cada ciclo de um presidente. Foi assim com Eurico Miranda, Roberto Dinamite, agora Campello. O que mais virá por aí?

Se quiser salvar seu emprego e a sobrevivência digna do clube, Zé Ricardo precisa olhar com mais carinho para os meninos que são produtos de uma reestruturação do trabalho de formação. É a perspectiva a curto, médio e longo prazo para a grande incógnita que é o Vasco da Gama.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.