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André Rocha

Cruzeiro toma liderança do Racing com mais intensidade que controle do jogo

André Rocha

23/05/2018 00h11

Construir uma identidade não é fácil. O Cruzeiro começou o processo em 2015 ao contratar Mano Menezes, precisou de uma mudança de rota com a saída do treinador para o futebol chinês e retomou com a volta de Mano no ano seguinte.

Em 2017, a marca do time celeste foi o controle do jogo. Algumas vezes com posse de bola inócua, sem infiltração. Nos jogos grandes controlando os espaços com frieza impressionante, a ponto de abrir mão do ataque na final da Copa do Brasil contra o Flamengo, mesmo jogando no Mineirão. Enfrentou críticas, mas se sustentou na conquista do título.

Mano Menezes sabe que precisa dar o salto nesta temporada, tornando seu time mais versátil, capaz de jogar também com imposição de ritmo. Descobriu a solução na intensidade. A lesão de Fred e a entrada de Sassá no centro do ataque ajudou na transformação.

Em casa, a pressão no início da partida contagiando a torcida em busca do gol logo no início para descomplicar o jogo ajudou a pavimentar a goleada por 7 a 0 sobre a Universidad de Chile com a cobrança de falta de Thiago Neves logo aos nove minutos.

Nos 2 a 1 sobre o Racing, Thiago Neves, dúvida por problemas físicos, começou cedo a construção da vitória. Logo aos três minutos, aproveitando jogada de Sassá pela direita. Além da intensidade, o atacante acrescenta profundidade também ao ataque. Cai pelos flancos, chama lançamentos, infiltra em diagonal.

Lucas Silva é outro acréscimo no meio-campo, reeditando dupla campeã brasileira com Henrique no 4-2-3-1 cruzeirense. Perde e pressiona, bola roubada e o chute de fora do meio-campista que parecia o início de nova goleada, logo aos nove minutos.

Mas o Racing não é "La U" atual. Mesmo com o time de Eduardo Coudet em queda de desempenho, de novo cedendo muitos espaços entre os setores e sofrendo com os problemas defensivos que não foram aproveitados em contragolpes pelo Cruzeiro com De Arrascaeta e Raniel, que entrou na vaga de Sassá, outro a perder chance cristalina na primeira etapa.

Mas a movimentação de Lisandro Lopez jogando às costas dos volantes adversários procurando Lautaro Martínez e, principalmente, a força pela direita com o apoio de Pillud e as aparições de Centurión ou Solari no setor de Egídio, empurraram o time da casa para a defesa. Por ali saiu a jogada do belo gol de Centurión. O empate que manteria a liderança dos visitantes não teria sido nenhum absurdo, mesmo com apenas sete finalizações, quatro no alvo, dentro de um domínio da posse com 58%. Podia ter saído ainda no primeiro tempo, no chute na trave de Solari.

Porque o Cruzeiro intenso no primeiro tempo se complicou na hora de controlar e administrar a vantagem e permitiu que o jogo ficasse mais aleatório, lá e cá. Algo que precisa ser retomado da temporada passada. Na medida certa. Mano tem elenco, tempo e confiança por conta dos resultados para buscar o equilíbrio. O objetivo da primeira fase da Libertadores, no duro Grupo 5, foi cumprido.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.