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André Rocha

Recuperação de Neymar fica cada vez mais distante do "Caso Ronaldo 2002"

André Rocha

02/06/2018 10h37

Foto: Ricardo Nogueira/FolhaPress

Quando Neymar fraturou o quinto metatarso do pé direito no dia 25 de fevereiro, muitos no Brasil tentaram ver o aspecto positivo da lesão da maior estrela brasileira: a inatividade no PSG poderia dar uma vantagem física ao atacante na Copa do Mundo, evitando o desgaste da reta final da temporada europeia. Ainda estavam em disputa as oitavas de final da Liga dos Campeões.

Inevitável a lembrança do "Caso Ronaldo 2002". O craque e artilheiro do penta voou na Copa mais descansado enquanto estrelas como Zidane e Figo chegaram esgotados na Ásia depois da conquista da Champions com o Real Madrid. Mesmo vindo de lesões gravíssimas no joelho em 1999/2000. E outra coincidência: a previsão de três meses de recuperação seria o mesmo período em que o Fenômeno ficou fora dos gramados antes da Copa que o consagrou.

Pois estamos no início de junho e o Brasil fará seu primeiro amistoso já dentro do período de preparação exclusiva para o Mundial na Rússia. Domingo, diante da Croácia em Liverpool. Faltando exatamente duas semanas para a estreia contra a Suíça. E Neymar começará no banco.

O jogador parece tranquilo, sempre sorridente nos treinos. A comissão técnica também traça um planejamento para que ele esteja preparado para a estreia. Mas há uma diferença fundamental que distancia cada vez mais o caso do atual camisa dez da seleção de Ronaldo há 16 anos: o período sem jogar na linha do tempo.

Ronaldo se lesionou em 2000 pela Internazionale. Voltou aos campos em julho de 2001. Até o fim daquele ano disputou 13 jogos. Foi uma lesão na coxa esquerda que tirou de ação o atacante no ano da Copa. Mas voltou no final de março, exatamente num amistoso da seleção contra a Iugoslávia. Luiz Felipe Scolari chamou para testar sua condição.

Tudo Ok, ele seguiu com a preparação e disputou o amistoso contra Portugal em abril que consolidou a ideia de Felipão de reunir Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo na frente e dar liberdade aos alas Cafu e Roberto Carlos em um esquema com três zagueiros. O Fenômeno participou do período de treinamentos e chegou inteiro já para a estreia contra a Turquia.

Já Neymar terá que retomar o ritmo de competição durante a Copa. Depois de três meses sem jogar. Por uma lesão que é considerada "chatinha". Ou seja, por maior que seja o otimismo, a rigor, é uma incógnita. Impossível prever como retornará a grande referência técnica do grupo convocado por Tite.

Junte a isso a lesão de Douglas Costa, o eventual substituto dentro da ideia de ter Philippe Coutinho por dentro na linha de meias do 4-1-4-1 contra seleções mais fechadas, e temos uma preparação um tanto prejudicada para encarar o mais desafio brasileiro: furar linha de cinco defensores. Algo que objetivamente não vimos contra a Rússia, a ponto do adversário, em casa, se arriscar na frente e ceder os espaços que o Brasil aproveitou para fazer 3 a 0.

A vantagem é que, ao contrário de 2002, o modelo de jogo foi consolidado nas Eliminatórias e a dependência de Neymar não é a mesma dos tempos de Felipão em 2014 e de Dunga nos dois primeiros anos do ciclo até a Rússia. É possível até pensar em um Neymar no ritmo e pronto na última partida da fase de grupos. E voando a partir das oitavas, aí sim com vantagem física sobre Messi, Cristiano Ronaldo, Griezmann, Toni Kroos, Isco…

Não deixa, porém, de ser um grande ponto de interrogação até lá. Assim como Ronaldo em 2002. Que ao menos o final desta história seja o mesmo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.