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André Rocha

Ingenuidade árabe é a primeira surpresa da Copa. Melhor para a Rússia

André Rocha

14/06/2018 15h33

Juan Antonio Pizzi, campeão da Copa América Centenário com o Chile em 2016, fez treinadores idealistas como Paco Jémez, Juan Manuel Lillo, Zdenek Zeman e o nosso Fernando Diniz parecerem pragmáticos na abertura da Copa do Mundo.

Sua Arábia Saudita contrariou todas as previsões de seleções menos tradicionais e jogando como "zebras" fechando espaços com linha de cinco atrás e muita gente protegendo a própria área. Ainda que já tivesse apresentado ao mundo a proposta de tentar jogar. Adiantou os setores e fez saída "lavolpiana" com o volante Abdullah Otayf recuando para auxiliar os zagueiros no início da construção do jogo.

Mas que jogo? As limitações técnicas saltavam aos olhos. Seria como se em 1999 Vanderlei Luxemburgo escalasse na seleção brasileira os "zagueiros-zagueiros" Odvan e João Carlos e o "volante-volante" Nasa do Vasco para trocarem passes e os demais jogadores no campo adversário esperando a bola chegar. Suicídio.

Melhor para a Rússia, insegura como anfitriã e tensa numa estreia do Mundial que sedia. A equipe de Stanislav Cherchesov, numa variação básica do 4-2-3-1 para as duas linhas de quatro sem bola, foi ganhando confiança nos muitos erros dos árabes e, principalmente, com o gol de Gazinsky logo aos 11 minutos.

Cheryshev, que substituiu o lesionado Dzagoev aos 22 minutos, aproveitou bem os espaços deixados entre os setores adversários para marcar dois gols. Mário Fernandes, o brasileiro naturalizado, teve algum trabalho na defesa com Al Dawsari e Al Faraj, mas mostrou a habitual desenvoltura nas descidas ao ataque aproveitando todo o corredor direito.

E a Arábia tentando jogar num 4-1-4-1 que sacrificava Otayf sozinho na proteção de uma defesa escancarada. Uma seleção mais qualificada teria feito mais que os 5 a 0 – como, por exemplo, o Uruguai de Cavani e Suárez. Mas para os russos os gols de Dzyuba e Golovin foram motivos para muita festa e algum otimismo para a luta pelas duas vagas do Grupo A.

Porque os árabes e Pizzi mostraram que ainda existe bobo no futebol. A ingenuidade foi a primeira grande surpresa da Copa de 2018.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.