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André Rocha

É preciso falar mais de Deschamps que da tecnologia na estreia da França

André Rocha

16/06/2018 09h34

O tema principal dos 2 a 1 da França sobre a Austrália na estreia em Cazã será o uso da tecnologia para auxiliar a arbitragem de Andres Cunha na marcação do pênalti que Griezmann sofreu e cobrou para abrir o placar através do VAR e do gol de Pogba, com a bola cruzando a linha da meta do goleiro Ryan.

Para este que escreve, decisões tão corretas quanto marcar o toque de mão sem sentido de Umtiti na área francesa. Jedinak empatou na cobrança de pênalti. Um prêmio àquela altura para a atuação australiana.

A equipe do holandês Bert Van Marwijk, treinador vice-campeã em 2010, mostrou que a ocupação física dos espaços corretos sem erros técnicos grosseiros pode causar muitos problemas para um adversário atuando no campo de ataque na condição de favorito. Jogo simples, duas linhas de quatro bem compactas.

Sofreu no início até ajustar o posicionamento e negar brechas para Dembelé, Griezmann e Mbappé. Três atacantes que dependem fundamentalmente dos espaços entre a defesa e o meio-campo do adversário. Por isso em suas equipes sempre precisaram de um centroavante ao lado para atrair a atenção da zaga. Aubameyang, Suárez, Diego Costa, Falcao García, Cavani…

Sem o "nove" é fundamental se movimentar, contar com passes verticais dos meio-campistas e laterais que abram o campo, esgarcem as linhas de marcação do oponente e busquem a linha de fundo. Tudo que Didier Deschamps não ofereceu a seus atacantes.

Pavard e Lucas Hernandez atacam menos que Sidibé e Mendy, reservas por não estarem no auge do desempenho físico. Kanté precisa estar em campo para roubar bolas por Pogba, talentoso mas pouco intenso e que sofre quando pressionam a marcação. Tolisso não é um armador.

O resultado prático é que depois de um início animador, os franceses foram sendo encaixotados pelo bom sistema de marcação liderados por Jedinak e Aaron Mooy na proteção da retaguarda. O gol de pênalti parecia descomplicar tudo, mas o empate australiano deixou tudo em suspenso.

Foi então que Deschamps resolveu mexer e mandou a campo Olivier Giroud. O pivô sem a técnica e a mobilidade de Griezmann, mas com a presença física e o trabalho de preparação para quem vem de trás. No recuo do centroavante, o passe para Pogba disputar a bola que bateu no travessão e cruzou a linha. O gol da vitória.

Fekir e Matuidi também saíram do banco, mas pouco contribuíram. A França venceu, mas sai da estreia com mais perguntas que respostas. Quem sai para encaixar Giroud? É possível escalar um meio sem Kanté com Pogba? Deschamps não parece ter as soluções para combinar melhor as características de seus jogadores para enfrentar equipes fechadas.

Dúvidas que são mais importantes para o futuro dos Bleus que o debate sobre o árbitro de vídeo que chegou para ficar.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.