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André Rocha

O futebol não perdoa o "sono", nem dos campeões mundiais. México histórico

André Rocha

17/06/2018 14h10

Juan Carlos Osorio, sempre inventivo, adepto do uso de três zagueiros  e que arma seu time de acordo com o adversário, surpreendeu ao ser pragmático e optar pelo simples na montagem do México para a estreia contra a Alemanha no Estádio Luzhniki.

Um 4-2-3-1 compactando duas linhas de quatro sem a bola e aproximando Carlos Vela de Chicharito Hernández. Pressão no homem da bola, intensidade e muita rapidez nas transições ofensivas, especialmente pelos flancos com Layun e Lozano, autor do gol único em contragolpe bem engendrado, de manual.

Muito mérito do México na vitória histórica. Até pelas muitas cobranças antes da Copa do Mundo. Ainda mais para o contestado e controverso Osorio.

Mas o resultado também passa muito pela baixa intensidade da Alemanha campeã mundial. Especialmente no início da partida. E o futebol atual não perdoa o "sono" em disputas de alto nível.  Low mandou a campo uma equipe naturalmente lenta, também no 4-2-3-1. Muller e Draxler nas pontas, Ozil atrás de Werner, o único com um pouco mais de velocidade, mas sem espaços para acelerar contra Ayala e Moreno.

Para piorar, os zagueiros Boateng e Hummels, sempre participativos na construção do jogo desde a defesa, não conseguiam acelerar o jogo através de passes verticais que ultrapassassem linhas de marcação do oponente. Nem Kroos, já que Khedira era o volante responsável pela aproximação com o quarteto ofensivo.

Força pela direita com Kimmich, mas do lado oposto Plattenhardt não compensou a ausência de Hector, vetado por forte gripe. No "abafa" da reta final, com Mario Gómez no centro do ataque, a bola rodava até os seguidos cruzamentos. Previsíveis. Faltou a jogada diferente pela ponta. Faltou Leroy Sané.

Linhas avançadas, baixa intensidade, pouca força na pressão após a perda da bola. Sem criatividade. A Alemanha foi um convite para a velocidade mexicana. Se Ochoa salvou sua seleção com boas defesas nos momentos de maior pressão, a retaguarda alemã se safou pelos equívocos do adversário no acabamento das jogadas.

Ainda assim, um jogaço quase do mesmo nível de Portugal 3×3 Espanha. Alemanha com 61% de posse de bola e 25 finalizações contra 12 – nove a quatro no alvo. Mas pagou pela dispersão e uma certa letargia no primeiro tempo, só acordando depois de sofrer um gol. Fatal. Melhor para o México de Osorio.

(Estatísticas: FIFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.