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André Rocha

Neymar é o Brasil das contradições e do pensamento binário

André Rocha

28/06/2018 01h35

Foto: Pascal Guyot/ AFP

Neymar é individualista. Mas também é um dos que mais servem passes para gols no futebol jogado na Europa. Neymar só quer saber de ser o melhor do mundo. No entanto, aceitou ser coadjuvante de Messi no Barcelona e, mesmo voando na reta final da Liga dos Campeões, viu o argentino conquistar sua quinta Bola de Ouro em 2015. E aplaudiu.

Neymar tem vida social agitada, vai e volta o namoro com a atriz global. Mas também faz declaração de amor em público. Neymar queima sua imagem com provocações desnecessárias em campo e negociações, digamos, "complexas" do seu pai envolvendo seu nome. Ainda assim, é um dos mais requisitados para a publicidade. Vende o que quiser.

Neymar é contradição pura. Pode chutar ou xingar um adversário por quase nada em um jogo e abraçá-lo depois de levar entrada duríssima, como fez com o sérvio Ljajic. Na partida em que marca gol chora no gramado. Quando perde várias chances deixa o campo sorrindo e mandando beijos. Com os mesmos 2 a 0 no placar.

A impossibilidade de definir Neymar e encaixá-lo num estereótipo é o que mais incomoda quem o critica. Ou elogia. Quem vê seu narcisismo midiático tende a aproximá-lo de Cristiano Ronaldo. Mas ele é amigo de Messi. Se é marrento e não solta a bola, como era querido por todos no Barcelona, time com filosofia mais coletiva do mundo no qual, se alguém tiver que brilhar será o gênio argentino?

O PSG fez Neymar dar alguns passos atrás e hoje lembrar mais o garoto do Santos que tinha que resolver tudo na individualidade que o craque maduro e solidário do Barcelona. Aquele que voou no início da Era Tite na seleção brasileira. Fazendo gols ou dando assistências. Nos últimos tempos passou a prender um pouco mais a bola. Contra a Sérvia, sem reclamações e provocações. Fominha só no final, buscando seu gol com o placar tranquilo.

Neymar são vários. Como cada um de nós, só que com milhões de olhos o stalkeando no Instagram e nos sites sobre celebridades. Sendo dissecado à distância. Para muitos um deus, para outros tantos tudo de pior. No país do "Fla-Flu" e do pensamento binário, onde você é zero ou é um, ter muitas facetas é um problema sério.

Às vezes Neymar parece não ligar e estar alheio a tudo que o cerca. Mas sabe do que falam e escrevem. Parece desdenhar, mas vez ou outra muda o comportamento de acordo com críticas e elogios. É confuso, controverso. Dizem que não tem carisma e é antipático, mas nunca deixa de ser notícia. Até pelo que não fez. Tudo parece tão fake que bem que pode ser verdade.

Neymar é "ame-o ou deixe-o". É vencer querendo mais mandar um "chupa" para os haters do que celebrar o próprio feito. É no carinho e na porrada. "100% Jesus" ou "Vão ter que me engolir". Neymar é o Brasil. Deixem o menino-homem brincar. Mas com moderação.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.