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André Rocha

Campanha campeã é maior que a bola jogada pela França pragmática

André Rocha

15/07/2018 14h43

Como esperado, o início de jogo em Luzhniki foi marcado pela tensão costumeira de uma final de Copa do Mundo e também pelo encaixe previsto dos desenhos táticos. França e Croácia marcando por zona, porém com duelos bem definidos. Especialmente no meio-campo: Kanté x Modric, Pogba x Rakitic e Griezmann x Brozovic. No 4-2-3-1 "torto" de Didier Deschamps, Matuidi esperava as descidas de Vrsaljko e auxiliava no combate a Modric. No 4-1-4-1 de Zlatko Dalic, Strinic até descia pela esquerda, mas tinha como maior preocupação a velocidade de Mbappé.

Mas os franceses encontravam dificuldade para acionar seu principal atacante. Recuavam as linhas, mas não encontravam espaços para acelerar. Muito pelos méritos do oponente. A Croácia adiantou as linhas, marcou e ocupou o campo de ataque e rodou a bola em busca de espaços.

Até Griezmann cavar uma falta inexistente. Na cobrança, Pogba, em posição legal, disputou com Mandzukic, que desviou marcando o primeiro gol contra em finais de Copa do Mundo. Os croatas teriam que subir a ladeira novamente. Mas a bola parada novamente ajudou na recuperação. Golaço de Perisic depois de limpar Kanté.

De novo a França recuou, novamente sofreu para encaixar um contragolpe. Outra vez foi salva pela bola parada. Pênalti de Perisic. Marcável como praticamente qualquer toque no braço segundo as novas e confusas orientações da FIFA para a arbitragem. O VAR entrou em cena e ajudou na interpretação de Nestor Pitana. Cobrança precisa de Griezmann.

A única finalização francesa em 45 minutos. Os croatas que tiveram 61% de posse tentaram sete vezes, só uma na direção da meta de Lloris. Nas redes. Primeiro tempo de superioridade croata.

Mas a França mais uma vez foi pragmática e letal. Coordenando melhor os contragolpes com o avanço e os sinais de desgaste físico e mental do adversário, acelerou pela direita com Mbappé, que serviu Pobga, meio-campista que iniciou a jogada com belo lançamento.

Depois a revelação da Copa, e também o craque para este que escreve, fez um gol de "ilusionista". Mbappé posicionou o corpo para bater com efeito no ângulo esquerdo e acertou um chute rasteiro no canto direito de Subasic. Poderia ter fechado 4 a 1 como o Brasil de 1970 sobre a Itália. No entanto, Lloris vacilou e Mandzukic desviou para as redes. Mas certamente o atacante croata trocaria seus três gols pelo título mundial.

Que também é de Giroud. Virou titular por suas funções em campo: estatura nas disputas pelo alto na defesa e no ataque. Fundamental na Copa da bola parada. Também um pivô facilitando o trabalho de Mbappé e Griezmann. Forte e alto, empurra a defesa para trás e cria espaços às costas dos volantes para seus companheiros. Uma lição para quem parou no tempo e acha que o camisa nove só presta se fizer gol. Giroud não marcou nenhum e é o campeão.

A Croácia foi até o limite. Terminou com 61% de posse, 83% de efetividade nos passes contra apenas 74% dos fraceses. Finalizou 15 vezes contra oito – seis a três no alvo. Modric eleito melhor da Copa. Na decisão, porém, a Copa também foi da bola parada e da precisão técnica. Em disputas tão parelhas, o futebol não perdoa o "arame liso".

França absoluta, mas com campanha melhor que o desempenho em campo. Maior que a bola jogada. Invencibilidade, vitórias em confrontos com os campeões Argentina e Uruguai. Superando a talentosa geração belga e goleando os croatas por 4 a 2. Sem prorrogação nem decisão por pênaltis.

Fica a impressão de que a obsessão pelo título depois da decepção em casa na Eurocopa em 2016 engessou um pouco a equipe. Pouca mobilidade ao atacar para garantir a organização na perda da bola, não desguarnecendo nenhum setor. Solidez defensiva para aumentar a competitividade.

Deu certo. E consagrou Deschamps, agora se juntando a Zagallo e Beckenbauer como os únicos campeões como jogador e treinador. Mesmo sem espetáculo, a missão foi cumprida.

(Estatisticas: FIFA)

 

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.