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André Rocha

Vanderlei Luxemburgo deve parar de reclamar de "hoje em dia"

André Rocha

01/08/2018 07h30

Santos e Palmeiras pensaram em Vanderlei Luxemburgo para o comando técnico de suas equipes. Fecharam com Cuca e Felipão, respectivamente. Mais uma oportunidade de reflexão para o treinador veterano, fora do mercado desde outubro do ano passado ao ser demitido pelo Sport. Ou, melhor ainda, de uma reciclagem. Buscar um "turning point" sinalizando mudanças na visão de futebol e no comportamento.

Mas Vanderlei prefere estar na mídia. Quase onipresente nos programas esportivos, em TV aberta e fechada. Agora também no Youtube. Apenas para escancarar sua estagnação. Não sai do lugar porque está com os olhos sempre voltado para o passado. Seus feitos, suas sacadas, conquistas. Todos históricos e respeitáveis, ainda mais se considerarmos de onde veio e que patamar alcançou. Só que passaram.

Quanto ao presente, apenas reclamações. Do "hoje em dia". "Não temos mais o drible", "falta talento", "não há nada de novo em termos táticos", "tudo isso eu já fazia".  Também lamenta a geração atual: "só querem saber de rede social", "são mimados, não aceitam bronca". Chega ao ponto de criticar os treinadores que estudam. Fazer curso? Nunca! Ele é quem deveria ser o professor…

Vanderlei foi um dos melhores do país, para este que escreve o melhor, quando vivia intensamente o presente e, principalmente, sinalizava o futuro. Queria a seleção brasileira e depois trabalhar na Europa. Conseguiu, porém falhou nos dois projetos. Agora, aos 66 anos, parece sem objetivo. Ou apenas voltar a trabalhar. Afirmou que faria o Santos voar se o clube fechasse com ele.

Mas como acreditar? Se não há nada novo, o que ele pode oferecer de diferente em relação aos concorrentes? Experiência sem conceitos atuais? Liderança sem jogo de cintura para lidar com os atletas? Para complicar, a dificuldade de trabalhar em equipe sem se intrometer nos outros setores do clube. Em especial nas negociações de jogadores.

Luxemburgo corre o risco de entrar no ciclo de Joel Santana: ser tratado como fenômeno de entretenimento e não mais um treinador de futebol. Há muitas pessoas que assistem aos vídeos do seu canal do Youtube para se divertir. De fato, ele sempre foi carismático. Um personagem sensacional. O conteúdo, porém, fica em segundo plano. Até porque ele está em todos os lugares falando as mesmas coisas que diz há anos.

Não há nada de novo no futebol para Luxemburgo. Logo, o Vanderlei não pode apresentar uma novidade ou algo interessante. Para quem quer voltar ao mercado e ser respeitado, o cenário está complexo. Seria melhor preservar a imagem e, principalmente, tentar se atualizar. Não em frente às câmeras ou na internet, mas no campo de jogo.

Afinal, insistir com as mesmas práticas esperando resultados diferentes nunca deu muito certo. Para qualquer um, em qualquer área. Mesmo que em breve apareça um clube interessado, as chances de dar certo são bem remotas. Vanderlei Luxemburgo se acha diferente. O mercado também o vê assim, mas não do jeito que ele pensa. Ainda há tempo para mudar, mas tem que ser rápido.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.