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André Rocha

Bruno Henrique é o "faz-tudo" da vez de Felipão no meio-campo do Palmeiras

André Rocha

06/09/2018 09h06

Foto: César Greco/Agência Palmeiras

O Palmeiras começou a descomplicar o jogo contra o Atlético Paranaense no Allianz Parque na volta do intervalo. Luiz Felipe Scolari notou que a dupla Thiago Santos e Felipe Melo à frente da defesa não funcionava tão bem dentro de casa como na vitória como visitante sobre a Chapecoense por 2 a 1 utilizando time praticamente reserva.

Recompôs a dupla de volantes com a entrada de Bruno Henrique na vaga de Thiago Santos. Saindo de um 4-2-3-1 clássico para um 4-1-4-1 mais dinâmico, o time paulista criou volume de jogo e dominou a partida. Subiu a posse de bola de 50% para 53%, finalizou seis vezes, quatro no alvo, contra apenas duas nos primeiros 45 minutos. O Atlético que se recuperou com Tiago Nunes no comando técnico concluiu apenas duas vezes na segunda etapa, nenhuma na direção da meta de Fernando Prass. Foram cinco no primeiro tempo.

O Alviverde construiu os 2 a 0 em duas saídas rápidas dentro da filosofia de um jogo mais direto de Felipão. Na primeira, Dudu pela direita acionou Deyverson, que entrara na vaga de Borja. Belo passe do centroavante em profundidade para Willian tocar na saída de Santos. No final, o "Bigode" sofreria pênalti do goleiro atleticano que Moisés converteu.

Os 17 pontos em 21 possíveis desde a chegada de Scolari alçou o Palmeiras à terceira colocação, ultrapassando um Flamengo em queda livre. Está a três pontos do Internacional, o novo líder. Nas quartas da Libertadores e na semifinal da Copa do Brasil. O sonho de uma inédita tríplice coroa clássica – duas principais competições nacionais e a principal do continente – está mais que vivo.

Muito pela presença de Bruno Henrique. O volante-meia que é fundamental no time de Felipão pela capacidade de auxiliar o volante mais fixo sem bola e se juntar ao meio-campista de articulação para criar as jogadas e também aparecer para a finalização. Função que exige técnica e também vigor para preencher um espaço grande entre as intermediárias.

Uma tradição nas equipes do treinador veterano. Desde Roberto Cavalo no Criciúma campeão da Copa do Brasil 1991, primeira grande conquista de Scolari. Depois Luis Carlos Goiano no Grêmio que venceu a Libertadores em 1995. César Sampaio, quando jogava com Galeano, ou Rogério no Palmeiras em mais uma Copa do Brasil vencida por Felipão. No título de 2012, a função era de Wesley até o volante se contundir. Na final contra o Coritiba, Henrique, zagueiro hoje no Corinthians foi adiantado para o meio e Marcos Assunção ganhou mais liberdade para chegar à frente.

Na seleção brasileira, a troca de Juninho Paulista por Kléberson arredondou o time do título mundial em 2002 na Ásia. Ainda que, na prática, muitas vezes o volante mais fixo tenha sido Edmilson e Gilberto Silva o segundo, na variação do sistema de três zagueiros para linha de quatro. Kléberson, porém, preenchia bem o espaço entre os cinco jogadores mais defensivos e o trio de talentos formado por Rivaldo e os Ronaldos. Dava a "liga".

Já na Copa das Confederações de 2013, Paulinho foi um dos destaques atuando à frente de Luiz Gustavo e se aproximando do quarteto Hulk-Oscar-Neymar-Fred. No Mundial no Brasil, o volante havia perdido muito rendimento com a troca do Corinthians pelo Tottenham, saiu para a entrada de Fernandinho, que não manteve o nível e os 7 a 1 foram o final trágico para uma equipe desequilibrada. Felipão reencontraria Paulinho nas várias conquistas no futebol chinês com o Guangzhou Evergrande. Com o camisa oito exercendo a mesma função essencial.

Não é por acaso que Bruno Henrique é o melhor passador e o meio-campista que mais finaliza da equipe no Brasileiro. Curiosamente, com Felipão ainda não marcou gols. Talvez pelas maiores atribuições defensivas e por conta do estilo de jogo com menos trocas de passe que dão tempo do volante aparecer na área adversária. A bola chega mais rapidamente e a finalização acaba ficando por conta dos atacantes.

Mas com cinco no Brasileiro e onze na temporada, o capitão foi destaque solitário na fase oscilante, ainda com Roger Machado. Seria o jogador do Palmeiras convocado por Tite para os amistosos contra Estados Unidos e El Salvador para ter um de cada equipe envolvida com a semifinal da Copa do Brasil. O treinador da seleção, porém, optou por dar oportunidades a Fred, Arthur e Fabinho. Não deixa, porém, de ser um reconhecimento ao ótimo momento do camisa 19.

Ainda mais importante pelas características e pelo posicionamento dos companheiros. Moisés na maior parte do tempo se adianta para se juntar ao centroavante buscando a primeira ou segunda bola nas muitas ligações diretas – foram 61 lançamentos contra o Atlético-PR! Já os ponteiros Willian e Dudu ficam mais abertos e buscam as infiltrações em diagonal, aparecendo pouco no meio para colaborar. Cenário diferente dos tempos de Zé Roberto no Criciúma, Carlos Miguel no Grêmio e Zinho no Palmeiras, pontas "falsos" que auxiliavam os meio-campistas. Agora é Bruno Henrique quem cobre os eventuais buracos.

A dúvida está na reposição. O recuo de Moisés com a entrada de Lucas Lima parece a mais viável, embora perca em marcação no meio. Pode ser a opção para partidas em que o jogo exija uma proposta mais ofensiva e de circulação da bola. Se a ideia for se fechar e negar espaços, Thiago Santos e Felipe Melo voltam a ser úteis protegendo a última linha de defesa.

Por enquanto tem funcionado e o Palmeiras ganha força. Muito pela eficiência de Bruno Henrique, o "faz-tudo" da vez de Felipão.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.