Tite está preso em um mundo paralelo perigoso, desconectado da "voz da rua"
Foto: Divulgação/CBF
Na finada revista sobre música e cultura "Bizz," alguém escreveu nos anos 1980 – muito provavelmente o hoje correspondente internacional Pepe Escobar – que o grande problema de artistas como Michael Jackson, Prince e George Michael era que a fama impossibilitava que eles vivessem como pessoas comuns. Perdiam o contato com a rua, com realidades diferentes. A vida era da mansão para o estúdio, aeroporto, hotel e casas de show ou estádios para os shows. Interferia diretamente no trabalho e também na vida pública. O texto era um elogio à Madonna, que não havia perdido essa conexão com o povo.
Tite não é um astro pop, embora tenha sido tratado como tal nos meses que antecederam a Copa do Mundo na Rússia. Mas ao ouví-lo nas coletivas a impressão é de que a rotina na seleção brasileira não tem feito bem ao treinador.
Não por sua retórica muitas vezes enfadonha e com discurso de autoajuda que pouco acrescenta, embora o conteúdo tático siga relevante. Mas principalmente por respostas como a direcionada a Donald Trump. Tola, até infantil. Como se o presidente dos Estados Unidos fosse algum personagem relevante no mundo do futebol que justificasse algum posicionamento de Tite.
Quando fala de Neymar, por mais que compreendamos que externamente o apoio ao seu atleta mais talentoso é uma necessidade política do cargo que ocupa, a impressão é de que ele de fato acredita que basta dar carinho e a braçadeira de capitão para que a referência técnica se transforme de fato numa liderança positiva.
Na coletiva depois da goleada sobre El Salvador, Tite voltou a citar Marquinhos. Como se tivesse notado todo seu talento quando surgiu no Corinthians e mantido a "joia" no clube. O zagueiro saiu emprestado para a Roma por uma bagatela e acabou contratado a preço baixo para depois o PSG desembolsar uma fortuna por seu futebol. O Corinthians perdeu dinheiro. E Tite mais uma chance de ficar calado e não lembrar de seu erro de avaliação.
Porque parece desconectado do mundo real. Da casa para a CBF, camarotes de estádios, aviões, hoteis, centros de treinamento. Conversa só com família e auxiliares. Uma realidade paralela, virtual e perigosa. Tite não precisa seguir o que todos falam, até porque enlouqueceria. Mas descer do pedestal e ouvir um pouco a "voz da rua" sempre faz bem.
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