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André Rocha

Palmeiras de Felipão é versão aprimorada do campeão brasileiro com Cuca

André Rocha

14/10/2018 19h57

Everton faz uma falta tremenda ao Grêmio. É o desafogo dos contragolpes, o ponteiro do drible que desarticula o sistema defensivo adversário. Da infiltração em diagonal para a finalização. Um desfalque imenso para uma partida do tamanho do confronto fora de casa contra o líder do campeonato.

Mas convenhamos que por mais que se dedique e reforce o discurso de que a competição por pontos corridos é importante, a concentração e a intensidade do Grêmio no Brasileiro nunca é a mesma em relação à Libertadores. É cultura, assimilada por Renato Gaúcho, maior ídolo da história do clube, e por seus comandados.

Nada disso, porém, tira os méritos dos 2 a 0 do Palmeiras no Pacaembu. Uma atuação segura, sólida, que permitiu apenas três finalizações do atual campeão sul-americano. Nenhum no alvo. O Alviverde concluiu sete, cinco na direção da meta de Paulo Victor. Nem tanto assim, mas o jogo todo deixou a impressão de que poderia marcar mais gols, mesmo com apenas 40% de posse.

Porque Luiz Felipe Scolari e sua comissão técnica conseguiram fazer o elenco assimilar a proposta de jogo rapidamente e com muita precisão, aditivada pela confiança por conta dos bons resultados. A ponto de poder mesclar cada vez mais titulares e reservas sem queda de desempenho por falta de entrosamento.

Contra o Grêmio, a maior virtude foi a concentração no trabalho sem bola. Depois do sucesso no duelo com o Colo Colo pelas quartas de final da Libertadores, Felipão resolveu seguir apostando na marcação por encaixe. Diante do time de Renato Gaúcho, que no país é quem trabalha no modelo mais próximo do jogo de posição, com toques curtos e mobilidade em pequenos espaços, as perseguições nem precisavam ser tão longas, o que costuma desarrumar mais os setores.

Os duelos, então, ficavam bem definidos: Dudu e Willian voltavam com os laterais Leo Gomes e Marcelo Oliveira, Thiago Santos pegava Luan, Moisés bloqueava Maicon, Bruno Henrique batia com Cícero. Mayke esperava Pepê, o mesmo do lado oposto com Diogo Barbosa contra Alisson. Zagueiros Luan e Gustavo Gómez cuidavam de Jael. Na frente, Deyverson incomodava Geromel e Bressan.

O gremista que recebia a bola era imediatamente pressionado por seu marcador. Nas tentativas de triangulação, quase nunca o Palmeiras permitia o terceiro homem livre – ou seja, aquele que se desmarca e vai receber a bola mais à frente. Impressionante como o time da casa permaneceu ligado durante os noventa minutos.

Bola retomada, muitas ligações diretas. Foram 44 lançamentos na partida. Quase sempre buscando Deyverson no pivô ou Dudu na velocidade. Não por acaso, os dois melhores em campo. Um desequilibrou com gols, outro como o ponteiro que Everton costuma ser para o Grêmio. O centroavante finalizou três vezes, duas no alvo. Nas redes.

O camisa sete, melhor em campo, foi quem mais acertou dribles e passes para finalizações. Cruzou para Deyverson desviar para o primeiro gol. Ganhou da defesa e rolou para Bruno Henrique chutar e Cícero salvar quase sobre a linha. Apesar de ainda insistir muito nas reclamações com a arbitragem, já é candidato a grande destaque individual do campeonato.

Marcação por encaixe, perseguições individuais, ligações diretas, concentração, Dudu desequilibrando. Tudo isso lembra demais a trajetória que terminou com o título em 2016. Sob o comando de Cuca. Campanha fantástica no segundo turno, outra semelhança.

Só que o time de Felipão, pelo menos até aqui, parece uma evolução daquele Palmeiras. Que tinha o talento de Gabriel Jesus, mas nem sempre um pivô como Deyverson para reter a bola e contribuir para o volume ofensivo. Mais leve, sem o peso dos 22 anos sem título brasileiro e o clima tenso que Cuca costuma criar na gestão do elenco, o jogo flui melhor.

Conta também, e muito, o elenco mais qualificado e homogêneo que o de dois anos atrás. Para vencer o Grêmio e praticamente tirá-lo da briga pelo título. Com os 3 a 1 do Internacional sobre o São Paulo no Beira-Rio, sobram três reais candidatos à principal competição nacional. Os dois vencedores das partidas mais importantes do domingo e mais o redivivo Flamengo de Dorival Júnior.

A menos que surja um "fato novo", a única possibilidade de queda do líder é o contexto da semifinal da Libertadores contra o Boca Juniors e de uma possível decisão continental interferir muito nas rodadas de fim de semana. Hoje parece improvável. Mais fácil os outros dois tropeçarem na ansiedade por taças.

Favoritismo absoluto do Palmeiras, maior que os três pontos de vantagem na tabela sobre o Inter. Returno de oito vitórias e dois empates, 16 gols a favor e apenas cinco contra. Praticamente imune a desfalques, com confiança no teto e tratando o Brasileiro sem obsessão. Não é a prioridade, mas parece ser levado cada vez mais a sério faltando nove rodadas.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.