Mais solta e entrosada, França, agora sim, é a melhor seleção do mundo
Aconteceu também em 1998. Depois do alívio de vencer a Copa do Mundo em casa com desempenho médio não mais que razoável, sobrando apenas nos 3 a 0 sobre o Brasil na decisão, a França ganhou confiança e variações táticas. Afirmou o jovem atacante Thierry Henry e amadureceu Zidane como melhor jogador do planeta. Venceu a Eurocopa de 2000 e dominou o cenário até a queda brusca, também pela ausência de seu camisa dez e estrela máxima, na fase de grupos do Mundial na Ásia em 2002.
Na Rússia em 2018, uma nova geração talentosa carregava o peso da responsabilidade de alcançar uma grande conquista, depois da decepção em casa perdendo a final da Euro 2016 para Portugal. A seleção do treinador Didier Deschamps, capitão e líder em campo nas conquistas do final da década passada, foi excessivamente pragmática e até travada em boa parte da campanha. Fiel demais, quase aprisionada a sistema tático e modelo de jogo focados mais no resultado final que no desempenho.
Venceu sem maiores contestações, porém sem convencer. A Croácia ficou com todo "hype", a ponto de dar a Luka Modric o prêmio de melhor do mundo. A Bélgica foi eliminada na semifinal em um jogo muito igual e também foi mais comentada e analisada. "Les Bleus" ficaram com o rótulo de "competitivos" destinados aos que não encantam.
Mas com o segundo título mundial, a paz combinada com a manutenção do trabalho e da base vencedora vem construindo uma França ainda mais forte.
Deschamps manteve o 4-2-3-1 "torto" que varia para o 4-3-3. Matuidi faz o "ponta volante" pela esquerda, mas em boa parte do tempo se alinha a Pogba à frente de Kanté formando um tripé no meio-campo. Na frente, Giroud é o pivô como contraponto físico para empurrar a última linha para trás. Tudo para dar liberdade à dupla Griezmann-Mbappé e também compensar a baixa intensidade de Pogba sem a bola.
Só que agora a confiança e um compromisso menor com o posicionamento na perda da bola permitem uma maior mobilidade e o jogo flui melhor. Especialmente quando parte de Kylian Mbappé, que faz o que se esperava dele: já que Matuidi é meio-campista e procura pouco o fundo, abrindo mais o corredor para Lucas Hernandez ou Mendy, nada impede que o atacante do PSG saia da direita e circule por aquele setor para buscar a infiltração em diagonal.
Antoine Griezmann também não precisa ser o atacante atrás do centroavante o tempo todo. Pode também aparecer nos flancos e usar a habilidade do pé canhoto para buscar o drible e ser mais um a desarticular a marcação adversária. Até Giroud está mais solto, arriscando mais. O gol contra a Holanda na Liga das Nações encerrando uma sequência de dez partidas, incluindo toda a Copa do Mundo, ajudou no resgate da confiança.
A nova competição do calendário de seleções na Europa, ainda que, a rigor, mantenha o caráter de amistoso, tem ajudado os franceses a manterem o alto nível pela força do Grupo 1. Até aqui, dois confrontos com a Alemanha e um diante dos holandeses.
Nos 2 a 1 de virada sobre os alemães no Stade de France, o sofrimento contra um time repaginado depois de somar apenas um ponto nas duas primeiras rodadas. Joachim Low corrigiu o erro da Copa do Mundo e agora explora a velocidade e a capacidade de chegar ao fundo de Sané. O ponteiro deu trabalho demais a Pavard e foi junto com Gnabry os melhores alemães em campo.
Mas a França soube conter o volume ofensivo dos alemães, teve maturidade para lidar com a desvantagem no gol de pênalti de Toni Kroos logo aos 13 minutos de jogo. Também poder de superação para compensar uma péssima atuação de Pogba, que vacilou e perdeu a bola no contragolpe que gerou a penalidade para o rival. Griezmann decidiu no segundo tempo com um gol de cabeça e outro de pênalti bastante discutível de Hummels em Matuidi – não há VAR na Liga das Nações.
São sete pontos em três partidas, mas a melhor notícia é que, apesar das vitórias apertadas, o desempenho melhorou. A equipe está mais leve e entrosada. Também mais "cascuda", dura de ser batida.
Ainda que a Bélgica mantenha o alto nível e a Espanha, agora com Luis Enrique no comando, seja a de maior potencial de crescimento no continente, a França reforça seu status de grande força no universo das seleções. Agora, sim, a melhor do mundo.
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