Futebol "serotonina" está mais perto da vitória que o "testosterona"
Este que escreve não é médico e a ideia do texto é fazer apenas uma analogia.
No Brasil, com o êxodo cada vez mais cedo dos talentos, criou-se a ideia de que o único futebol possível para ser bem sucedido é o pragmático, físico, de imposição da força em detrimento da técnica e da tática.
Quando o assunto é Libertadores isto fica ainda mais acentuado. "É guerra!" Vira uma disputa de quem é mais macho, grita mais alto. Vira um jogo à parte, mundo paralelo. Uma espécie de ode à virilidade.
É o futebol "testosterona" – alusão ao hormônio masculino associado à libido, força, desenvolvimento muscular, etc. que, quando desregulado pode gerar raiva, agressividade e tendência a agir por impulsos.
Hoje o maior símbolo deste fenômeno no futebol brasileiro é Felipe Melo. Intempestivo, às vezes histérico no campo discutindo com companheiros, adversários e árbitros. Muitas vezes desperdiça energia na ânsia de se impor como o "xerifão" e acaba cansando e se desconcentrando de sua função em campo. No gol de Benedetto que ratificou a classificação do Boca Juniors no Allianz Parque, o volante estava mal posicionado, demorou a reagir e permitiu a finalização do atacante argentino.
Mas o Grêmio, grande exceção até então no Brasil, também acabou apelando para um modo mais rústico ao se deparar com um River Plate técnico e organizado. Sem contar com Luan nos dois jogos da semifinal e em boa parte deles também sem Everton Cebolinha, o grande destaque nesta temporada.
O estilo mais defensivo foi compreensível e bem aplicado no Monumental de Nuñez. Em casa, porém, o clima de final foi transformando o time de Renato Gaúcho. Pragmatismo, tensão, mais jogo de contato, marcação forte. Quando Everton entrou em campo, faltou confiança para definir o jogo e a vaga na decisão. Sobrou luta, o atual campeão vai questionar eternamente a arbitragem por conta do gol de Borré com a bola desviando em seu braço e a comunicação do treinador Marcelo Gallardo com seu auxiliar à beira do campo. Mas foi visível a queda de desempenho. Por força das circunstâncias acabou trocado pelo "jogo de Libertadores" que fez mais uma vítima no Brasil.
Melhor para o futebol "serotonina" – relativo à substância que, resumindo bastante, faz a transmissão de dados entre os neurônios. Se bem dosada regula o sono, o apetite e o humor. Contribui também para agir com confiança e na capacidade de responder aos estímulos com rapidez e qualidade. Por isso está diretamente associada ao prazer.
Exatamente as características que costumam marcar os gigantes argentinos Boca Juniors e River Plate. Especialmente na Libertadores. São times que gostam de disputá-la e entram em campo sem o peso que as equipes brasileiras carregam.
Dentro ou fora de casa conseguem impor o ritmo e jogar com naturalidade. Inteligência sem arroubos. Intensidade sem desespero ou agressividade. Trabalham com naturalidade e não se abatem com adversidades. Oscilam sem desespero e tentam retomar o mais rápido possível a capacidade de controlar o jogo e os nervos.
Mesmo quando não contam com grandes esquadrões parecem saber exatamente o que precisam fazer em campo. Não se lançam ao ataque de forma inconsequente, nem se instalam no próprio campo guardando a própria meta com temor. São adaptáveis, sabem a hora de acelerar ou "congelar" a bola ganhando preciosos segundos em reposições, faltas e também trocando passes no campo adversário.
Não é fórmula perfeita, ainda mais no esporte mais caótico e imprevisível. Mas o futebol "serotonina" está mais próximo da vitória que o "testosterona". Porque a agressividade quase sempre é domada pela calma confiante. Por isso também é que Boca Juniors e River Plate farão a final das finais da Libertadores em Buenos Aires.
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