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André Rocha

Vinicius Jr. repete no Real o que fazia no Fla: salva time "arame liso"

André Rocha

03/11/2018 14h25

O Real Madrid não vencia há cinco rodadas no Espanhol. Entrou em campo no Santiago Bernabéu com Julen Lopetegui demitido e juntando os cacos dos 5 a 1 que levou do Barcelona. Para enfrentar o Valladolid, sexto colocado e invicto fora de casa até então. O time do sócio majoritário Ronaldo Fenômeno.

Com Santiago Solari no comando técnico, o time repetiu problemas coletivos graves da sequência negativa: marcação frouxa no meio-campo, muitos espaços na última linha de defesa e dificuldades para infiltrar em um sistema defensivo organizado e negando brechas para infiltração.

A tentativa inicial foi um 4-3-3 com Bale e Asensio se movimentando e procurando Benzema. Também abrindo os corredores para os laterais reservas Odriozola e Sergio Reguilón. Chance cristalina, porém, só no contragolpe em que Asensio encontrou Benzema livre para a finalização.

O Valladolid se fechava com duas linhas de quatro e todos os jogadores no próprio campo. Mas não abdicava do jogo e sempre era perigoso quando descia em bloco e explorava os espaços entre Casemiro, muito afundado perto dos zagueiros Nacho e Sergio Ramos, e os meias Modric e Kroos.

Duas bolas no travessão de Courtois e outras chances desperdiçadas. A mais clara com Antoñito livre à frente do goleiro belga, ainda no primeiro tempo. Mesmo com Real em crise é sempre um perigo não "matar" um gigante.

Solari trocou Casemiro e Bale por Isco e Lucas Vázquez. Um 4-2-3-1 que assumiu os riscos de uma postura ofensiva. Mais gente no campo de ataque. A equipe, porém, seguia "arame liso". Cerca, toca a bola, mas não fura a retaguarda do oponente.

Muito pela ausência de Cristiano Ronaldo, a personificação da contundência no ataque. Porque para que o passe se transforme em assistência é preciso ter um atacante que se desloque, ataque o espaço certo no tempo exato. Justamente a especialidade do português, sem contar a eficiência nas finalizações, a liderança positiva e o simbolismo do maior jogador da história do clube.

No cenário de crise, Vinícius Jr. virou um fio de esperança pelo que vem produzindo no Real Castilla. Entrou no lugar de Asensio aos 27 minutos do segundo tempo. Aberto pela esquerda. Sua função? A mesma de quando jogava no Flamengo, também "arame liso": buscar a jogada individual da ponta para dentro buscando a finalização ou servir o companheiro.

Dez minutos depois, mesmo cercado por quatro adversários, cortou da esquerda para o centro e chutou. A bola desviou no zagueiro Olivas e saiu do alcance do goleiro Jordi Masip. Pela primeira vez o garoto descomplica um jogo para os merengues. Com o alívio veio o pênalti sobre Benzema convertido por Sergio Ramos.

Com os 2 a 0, a missão é resgatar a confiança e retomar a temporada com um novo treinador. Ou mesmo se mantiver Solari. Seja como for, Vinícius Júnior deixa o seu recado: pode ser a peça diferente para mudar jogos quando for necessário. O "batismo de fogo" já passou.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.