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André Rocha

A caminho do Fla, Gabigol é atacante que aproveita espaços, mas não os cria

André Rocha

09/01/2019 07h39

Gabriel Barbosa, o Gabigol, conseguiu liberação da Internazionale para atuar por empréstimo pelo Flamengo e até já vestiu a camisa rubro-negra em um vídeo pessoal. Oficialmente, o clube apenas aguarda o atacante para fazer exames médicos e assinar contrato.

Com tudo acertado e à disposição do treinador Abel Braga, a missão principal será o ajuste à proposta de jogo do Flamengo, que é basicamente a mesma desde 2016, ainda com Muricy Ramalho. Em função do aumento da capacidade de investimento, o favoritismo natural nas competições que disputa empurra o time para o campo adversário, com controle do jogo pela posse de bola e trabalho coletivo para furar as linhas de marcação.

Pode haver um ou outro ajuste com o novo comandante, mas principalmente no Carioca e na primeira fase da Libertadores será difícil ver a equipe  atraindo o oponente e acelerando contragolpes para aproveitar a defesa adiantada. Ninguém vai se abrir contra um time milionário.

Com isso, a adaptação de Gabriel é um desafio. Com Everton Ribeiro, De Arrascaeta – enfim confirmado oficialmente como nova contratação –  e Vitinho, ainda com a possibilidade de fechar com Bruno Henrique, o Flamengo só oferece a função de centroavante. Abel quer dois ponteiros bem abertos buscando os dribles e chegando ao fundo. Assim a mobilidade fica prejudicada. Caberia ao novo atacante recuar, jogar com um ou dois toques, fazer o pivô, ou aparecer na área para finalizar. Trabalhar mais coletivamente para criar espaços.

Não é o ponto forte. Gabriel funciona melhor com total liberdade e sendo a referência para as transições ofensivas em velocidade às costas da retaguarda adversária. Na seleção campeã olímpica foi o que se destacou menos no quarteto formado com Luan, Neymar e Gabriel Jesus. Na Internazionale e no Benfica praticamente não jogou – disputou 15 partidas em uma temporada na Itália e meia em Portugal – muito em função dos problemas para se encaixar como mais uma peça no modelo de jogo. Leia mais AQUI.

No Santos de Cuca voou e terminou a temporada como goleador máximo do Brasileiro e um dos artilheiros da Copa do Brasil, um feito inédito, sendo a estrela máxima e a equipe jogando para ele. No Fla deve ser a principal referência para as finalizações e colaborar muito para a equipe deixar de ser "arame liso" em jogos grandes, mas há mais gente com currículo para dividir protagonismo.

Em tese, a manutenção de Everton Ribeiro como um ponta articulador saindo da direita para criar e não por dentro como meia em um 4-1-4-1, como indica Abel, Gabriel teria um espaço para se deslocar e confundir a marcação. Agora cabe ao técnico combinar da melhor forma possível as características dos atletas com o estilo ofensivo que a torcida e o contexto exigem.

Não basta "juntar as feras". Sobram exemplos de "SeleFlas" que deram muito errado – como o "pior ataque do mundo" com Edmundo, Romário e Sávio em 1995 e o time de estrelas formado na mal sucedida parceria com a ISL em 2000 que reuniu no clube Gamarra, Edilson, Petkovic, Alex e Denílson.

Para 2019, a obsessão por títulos para acabar com o estigma de "cheirinho" deixa a margem de erro bem pequena. A diretoria aposta alto, mas sem garantias. Como será desta vez?

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.