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André Rocha

Por que Ganso pode ser o "elo perdido" no Fluminense de Fernando Diniz

André Rocha

15/01/2019 01h01

Foto: Getty Images

Este blog não costuma abordar sondagens ou negociações ainda não concretizadas, mas vai aproveitar o gancho do interesse do Fluminense em Paulo Henrique Ganso – e vice-versa, segundo o diretor de futebol Paulo Angioni, com o alto salário do jogador como grande obstáculo – para analisar as possibilidades do time agora comandado por Fernando Diniz.

Segundo informações de bastidores, Diniz está mais calmo e paciente na gestão de pessoas. Ótima notícia para os tricolores, porque foi o que prejudicou e minou seus trabalhos a médio prazo. Mas segue com princípios de jogo inegociáveis, como imposição pela posse de bola e linhas avançadas.

O treinador parte do saudável estímulo ao aspecto lúdico do jogo e ao gosto pela bola que existe em cada atleta desde menino. Mas no Athletico esbarrou em um conflito de difícil solução: o descasamento de sua proposta de jogo com as características dos jogadores. Zagueiros lentos para jogar com a defesa adiantada e meias e atacantes mais adaptados a um jogo de transições ofensivas em velocidade e pouco afeitos ao trabalho coletivo para criar espaços no campo ofensivo.

Com uma ideia de jogo mais flexivel, o auxiliar Tiago Nunes conseguiu uma campanha de recuperação no Brasileiro e o título da Copa Sul-Americana que levou o clube à fase de grupos da Libertadores 2019. A insistência da direção com Diniz e dele com seu modelo de jogo poderiam ter custado caro ao time paranaense – talvez um catastrófico rebaixamento, já que o técnico entregou o time em penúltimo lugar e apenas 25% de aproveitamento na competição.

Considerando suas declarações na pré-temporada e os conceitos trabalhados nos treinamentos, as convicções de Diniz seguem intactas. Mas o Flu tende a enfrentar os mesmos problemas de adaptação dos jogadores aos ideais do novo comandante.

A zaga com Digão e Ibañez talvez tenha menos problemas que Thiago Heleno e Paulo André, já que se garante mais nas coberturas rápidas e terá Aírton na proteção e os laterais Ezequiel ou Gilberto e Marlon, se bem orientados, atentos à composição da linha de quatro atrás. Mas com a bola, a formação aventada até aqui deve encontrar dificuldades para a troca paciente de passes e mobilidade para abrir as brechas para as infiltrações.

Bruno Silva se destacou no Botafogo de Jair Ventura atacando os espaços e chegando na área para finalizar em contragolpes. Está longe de ser um meio-campista que se destaca pelo passe. Na frente, Mateus Gonçalves, ex-Sport, também é jogador de dinâmica diferente, de definir rapidamente a jogada. Assim como os atacantes Luciano, Everaldo e Yoni González, este contratado ao Junior Barranquilla. Aceleração pura!

Há opções no elenco de passadores trabalhando entre as intermediárias: Daniel, cria da base de Xerém, tem perfil organizador, assim como Caio Henrique, que se destacou no Paraná e pode ser cedido por empréstimo pelo Atlético de Madrid. Mas não são meias para assumir a armação e, principalmente, ditar o ritmo. Acelerar e cadenciar. Recuar para construir trocando com Bruno Silva, mas também aparecer na frente com o toque diferente.

É aí que entra PH Ganso. Mesmo entregando pouco na tão sonhada e, até aqui, mal sucedida experiência na Europa. Em 18 jogos oficiais pelo Sevilla marcou quatro gols; no Amiens, 12 partidas e apenas dois passes decisivos. Muito pouco. Há sérias dúvidas sobre sua capacidade de jogar em alta intensidade. Pelo estilo e por conta de problemas físicos ao longo da carreira. Por isso o interesse de clubes com maior poder de investimento não passou de sondagem.

No Fluminense, porém, é possível render. Porque é um time para Ganso vestir a dez e chamar de seu. E sem aspirações de grandes títulos, ao menos em tese. Ele seria a grande estrela da equipe carioca e um interlocutor técnico de Fernando Diniz em campo. Para municiar um ataque que pode ter o retorno de Pedro em março.

Quem sabe não é o estímulo que falta ao jogador de 29 anos? O mesmo que não correspondeu às expectativas, mesmo as mais realistas, que não colocavam o camisa dez do Santos campeão paulista e da Copa do Brasil 2010 como mais promissor que Neymar.

O ideal seria que Fernando Diniz fosse mais pragmático e cedesse ao futebol por demanda. Mas seu espírito é de Cilinho, Telê Santana, Marcelo Bielsa e Quique Setién. Que ao menos seja "louco" apenas nas ideias e não no trato com os jogadores.

Se receber Ganso e der respaldo e responsabilidade, o meia talentoso pode ser a peça que falta na montagem do novo Fluminense. Uma espécie de "elo perdido". Será?

Uma formação possível do Fluminense de Fernando Diniz com a hipotética presença de Paulo Henrique Ganso: linhas adiantadas, zagueiros na cobertura dos laterais, Aírton fechando por dentro, Ganso recuando para qualificar a construção das jogadas e Bruno Silva infiltrando e se juntando ao trio ofensivo de mais rapidez e intensidade que lucidez na criação de espaços. Algo a ser pensado pelo treinador até o retorno de Pedro (Tactical Pad).

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.