O maior prejuízo de um fim de semana sem futebol no Rio de Janeiro
Não havia mesmo clima para que as semifinais da Taça Guanabara fossem disputadas neste fim de semana. Vidas de jovens esportistas foram ceifadas. Por negligência ou fatalidade importa mais para o jornalismo, aos responsáveis pela investigação do caso e, principalmente, para quem quer justiça e punição aos responsáveis pela morte de seus entes queridos.
O prejuízo financeiro para Flamengo, Fluminense, Vasco, Resende e Federação não deve ser relevante com o adiamento das partidas. O grande déficit, porém, é do Rio de Janeiro. Muito mais grave e com consequências a longo prazo.
A começar pelos dez jovens que se foram no incêndio no CT do Flamengo levando sonhos e deixando lágrimas. Um futuro sem preço perdido. Cada história é motivo para sentar no chão e chorar. Ou abraçar forte cada pai, mãe, irmão, responsável. Nenhuma indenização é capaz de ressarcir a perda de um sorriso juvenil, saturado de planos.
Vidas que deviam ser prioridade máxima. Como a dos milhares de crianças e jovens vítimas da violência. Do tráfico, da milícia, da própria polícia. De uma cultura que já encapsulou e naturalizou o crime e a barbárie.
Mas as tragédias também alimentam uma imagem da cidade associada a algo que não tem nome, mas este blogueiro – nascido, criado e apaixonado que só deixou a capital carioca por seis longos meses, louco para voltar – costuma chamar de "culto ao mal feito".
Os últimos governadores estão presos. A cada verão qualquer tempestade pára a cidade. Desliza, soterra, destroi. Mata. Obras inacabadas, propinas para todos os lados. Um jeitinho de fingir que fez. Prevenção? Planejamento? Organização? Que nada! O carioca é "malandro", resolve tudo no carisma e na simpatia. Fala "vamos marcar" e não aparece. De repente se encontra na praia e finge que nunca combinou nada com um sorriso no rosto.
Mas carioca também fecha a cara. Inclusive o flamenguista que associa a falta de títulos importantes desde que se organizou financeiramente aos jogadores "mimados" por salários em dia e estrutura para trabalhar. Não é raro ouvir nas ruas que o profissional de futebol só se esforça se souber que vai receber os atrasados apenas se vencer, com o prêmio do título. Só a desordem e o amadorismo geram o esforço.
"O Maraca é nosso!" mesmo com jogos no estádio dando prejuízo ou receitas limpas irrisórias. O Estadual é o mais "charmoso", já que não há cara de pau para dizer que é melhor que o Paulista. O carioca é o rei dos eufemismos.
Não basta sofrer com tantas tragédias, ano após ano. Segue pensando errado, agindo errado, votando errado. Os mais velhos com saudades da época da capital federal, os jovens torcedores acusando a "mídia" de bairrista. Muitas vezes com razão pelos excessos de quem devia fazer cobertura nacional. Mas como dar a atenção de outros tempos a clubes que não vêm honrando sua história? Nas finanças ou nas taças que escapam pelos dedos.
Que o domingo sem "praia e sol, Maracanã e futebol" sirva de reflexão. Não dá mais para ser no jeitinho, no puxadinho. Nas coxas. A Natureza já foi generosa demais, o Cristo não vai nos redimir sempre. Do nosso prejuízo real, diário. Passou da hora de entregar um pouco mais de suor, não só pelo calor. Para que a gente não se desidrate de tanto chorar.
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