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André Rocha

Carille depende de Romero para buscar a profundidade perdida no Corinthians

André Rocha

12/02/2019 06h38

A campanha do Corinthians neste início de 2019 decepciona, mesmo considerando as mudanças no elenco e o curto período de pré-temporada. Duas vitórias, um empate e três derrotas no Paulistão. Números que não diriam muita coisa se houvesse a percepção de que o desempenho está em evolução.

Não é o caso. Fabio Carille voltou ao clube com a missão de resgatar a identidade que tem como marca a solidez defensiva, mas também fazer a equipe trabalhar a bola com mais qualidade até a infiltração. A volta de Vágner Love jogando um pouco atrás do centroavante, Gustavo ou Boselli, não melhorou o poder de fogo da equipe.

Porque falta profundidade às ações ofensivas do Corinthians. A busca do espaço às costas da defesa adversária para finalizar ou chegar ao fundo e servir o companheiro. O objetivo final da posse de bola e da movimentação. Ou do contragolpe letal. Algo que faltou inclusive no triunfo sobre o rival Palmeiras, depois do gol de Danilo Avelar. Ajuda a explicar o sufoco que exigiu muita concentração defensiva.

O Corinthians campeão paulista e brasileiro de 2017 contava com duas peças fundamentais no ataque com essa característica: Jô e Ángel Romero. O centroavante era forte no jogo aéreo, mas não lento. Chegava muitas vezes na frente dos zagueiros em bolas longas ou no passe de um meia por dentro.

Já o ponteiro paraguaio não é exatamente um velocista, mas tem o timing para buscar as diagonais no limite da linha de defesa para não entrar impedido. O primeiro gol sobre o São Paulo na vitória por 3 a 2 na campanha do título nacional é um exemplo clássico desta virtude do atacante.

Momento em que Romero parte da esquerda para infiltrar em diagonal e marcar o primeiro gol do Corinthians sobre o São Paulo em 2017 (Reprodução Premiere).

Clayson também foi peça importante na reta final do campeonato, partindo da ponta e acelerando às costas da retaguarda adversária. Nenhum primor de técnica, mas neste caso vale mais a agilidade e o instinto de atacar a brecha deixada, além do "sprint" para chegar antes. Apesar da mesma dificuldade para penetrar em sistemas defensivos bem postados, as opções eram mais eficientes que as atuais.

Dois anos depois, Clayson ainda faz parte do elenco. Carille, porém, tenta armar o time de outras formas. Já rodou os contratados André Luís e Gustavo Silva, deu minutos aos jovens Pedrinho e Mateus Vital. Apelou até para um losango no meio-campo, com Jadson atrás de Love e Gustavo no empate em 2 a 2 com o Ferroviário na estreia pela Copa do Brasil.

No empate com o Ferroviário pela Copa do Brasil, ataque corintiano afunila a jogada com Ramiro, Sornoza e Jadson apoiando Vagner Love e Gustavo, isolado e impedido no lance (Reprodução TV Globo).

Sem sucesso. Júnior Urso, a contratação mais recente, pode entregar infiltração por dentro de quem chega de trás, o que Ramiro e Sornoza não vêm fazendo. Mas não resolve o problema. Não por acaso, a direção de futebol retoma as negociações com Romero para a renovação de contrato. No atual cenário, o artilheiro da Arena Corinthians com 27 gols (38 no total pelo clube) virou peça fundamental para ajudar "Gustagol" no ataque.

A esperança de momento para resgatar algo que ficou pelo caminho. Carille busca a profundidade perdida para fazer o Corinthians se recuperar na temporada.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.