Topo

André Rocha

Corinthians de Carille reforça a imagem de time para jogo grande

André Rocha

11/03/2019 05h06

Antes do clássico entre Corinthians e Santos em Itaquera, o clichê "confronto entre estilos opostos" envolvendo Jorge Sampaoli e Fabio Carille correu solto pelo noticiário. De fato fazia algum sentido, apesar do exagero de colar no treinador campeão brasileiro de 2017 e bi paulista o rótulo de "retranqueiro".

Visão que foi pulverizada assim que a bola rolou. O Corinthians adiantou e pressionou a marcação para sufocar a saída "lavolpiana" do rival com Alison como terceiro zagueiro pela direita ajudando Gustavo Henrique e Aguilar. Também fechava o lado forte do Santos, o direito com Victor Ferraz e Carlos Sánchez, agrupando Clayson, Sornoza e Danilo Avelar, mais a cobertura do zagueiro Henrique. Sem marcação individual, é claro.

Induziam o passe para Jean Lucas, a novidade na escalação, para dar o bote. O jovem meio-campista ex-Flamengo, de porte elegante, mas frágil no jogo físico, lento e com dificuldades nos passes longos, perdia  a bola e viabilizava os contragolpes do time da casa.

Isto acabava forçando Diego Pituca a inverter o jogo procurando o setor esquerdo de Felipe Jonatan, Jean Mota e Derlis, bem vigiados por Pedrinho, Júnior Urso e Fagner com a cobertura de Manoel. Bola roubada, aceleração pelos flancos e cruzamentos procurando Boselli, a referência na frente do 4-1-4-1 de Carille. Assim o Corinthians dominou o primeiro tempo.

Por consequência, obrigou Sampaoli a mudar. Sem Jean Lucas e Alison e com Cueva e Rodrygo, o Santos adiantou as linhas, melhorou a troca de passes e foi ligeiramente superior na segunda etapa. Teve a bola do jogo na saída errada de Cássio com os pés que Cueva não aproveitou.

O Corinthians só cresceu quando Love entrou na vaga de Pedrinho e criou problemas com infiltrações em diagonal. Uma disputa interessante que merecia gols para dar sentido, emoção e ainda mais possibilidades de variações ao longo da partida.

De novo o Corinthians de Carille foi superior ao oponente mesmo com posse de bola inferior: 40%. Finalizou 12 vezes contra nove, duas para cada lado no alvo. Deixou o time de Sampaoli desconfortável, como o próprio técnico argentino admitiu na entrevista. O Santos rebateu 42 bolas e apelou 50 vezes para o lançamento. Demais para quem valoriza a posse e o trabalho com passes curtos.

A rigor foi o sétimo jogo relevante do Corinthians na temporada. Vitórias nos clássicos sobre Palmeiras e São Paulo nesta primeira fase meramente protocolar do estadual, os jogos eliminatórios na Copa do Brasil, contra Ferroviário e Avenida, e os dois na Copa Sul-Americana diante do Racing. Não saiu derrotado em nenhum e contra o Avenida, mesmo com um desempenho ruim, mostrou poder de reação para virar um 0 a 2 tenso em casa com quatro gols e evitar uma tragédia.

Em sua Arena cumpriu sua melhor atuação coletiva no último dos quatro jogos que não venceu. Os três pontos seriam importantes na tabela e também para aumentar a confiança. Talvez tenha faltado o toque final de Gustavo. Mas valeu pela consistência. A força mental e a capacidade de competir em bom nível. Foi a marca da equipe vencedora nos últimos anos com Carille.

Na coletiva pós-jogo, o técnico ressaltou a necessidade de rever o calendário pelo excesso de jogos e falta de tempo para treinar. Discussão antiga, mas que é sempre importante fazer eco e exigir mudanças. Com pré-temporada mais longa e menos partidas o nível tende a subir. Em técnica, tática e intensidade. Só não vê quem não quer ou tem interesses escusos.

Em campo, o Corinthians de novo responde bem quando testado de fato. Reforça a imagem de time para jogo grande. Não está pronto, mas parece no caminho. É o que vale, ao menos por enquanto.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.