Topo

André Rocha

Zidane volta ao Real "à la Cuca". Foi bombeiro, agora será arquiteto?

André Rocha

11/03/2019 16h44

A surpresa da volta de Zinedine Zidane ao comando técnico do Real Madrid se dá mais pelas fortes especulações na Europa de que o francês já teria um acerto encaminhado com a Juventus para suceder Massimiliano Allegri. Porque o retorno para o clube no qual foi tricampeão da Liga dos Campeões como treinador não é difícil de entender.

No Brasil tivemos um exemplo parecido recentemente: Cuca saiu do Palmeiras campeão brasileiro de 2016, ainda com Paulo Nobre na presidência e algum desgaste no relacionamento com jogadores e diretoria. Mauricio Galiotte era o novo presidente, da situação, mas o treinador preferiu deixar o clube, também por questões particulares. Que cinco meses depois ficou claro que não eram tão sérias assim, já que voltou para suceder Eduardo Baptista. Depois de uma campanha traumática no Campeonato Paulista.

Nos dois casos, a sacada é voltar com muito mais moral em um clube por baixo. Desafetos, críticos e céticos em silêncio e estendendo tapete vermelho. Zidane não é tão "sanguíneo" quanto Cuca, mas trabalhar com Florentino Pérez não deve ser algo muito confortável. É bem provável que a relação conflituosa da direção do clube merengue com Cristiano Ronaldo, o que culminou com sua saída para a Juventus, tenha empurrado também Zidane para fora.

E o futuro? Bem, Zidane foi um "bombeiro" no Real Madrid quando assumiu na virada para 2016, sucedendo Rafa Benítez. Havia sido auxiliar de Carlo Ancelotti, conhecia e contava com o respeito e a amizade dos jogadores e fez o simples: reconstruiu o vestiário e resgatou os conceitos do técnico italiano que levou o time à décima Champions e fez a equipe jogar um grande futebol no segundo semestre de 2014. Acabou demitido basicamente por não impedir que o Barça de Messi, Suárez e Neymar faturasse a tríplice coroa em 2015.

Nas duas temporadas e meia praticamente não foi ao mercado, investiu mais na manutenção do bom ambiente evitando contratações midiáticas para não gerar ciúmes e apostou nas divisões de base. Abraçou o lema "a melhor notícia é não ter notícia". Acabou alcançando um feito inédito: ganhou duas Ligas dos Campeões com a mesma escalação inicial: Navas; Carvajal, Varane, Sergio Ramos e Marcelo; Casemiro, Modric e Kroos; Isco; Cristiano Ronaldo e Benzema.

Todos seguem no clube, exceto a estrela máxima. Mas parece claro que o ciclo de muitos já se encerrou e é preciso reformular, corrigir a rota. Ou pavimentar um novo caminho. Aí está o grande desafio de Zidane. Agora terá que ser arquiteto: planejar a construção de um novo elenco. Combinando características e casando perfis para encontrar a química. A chama que feneceu. Será capaz?

No Palmeiras, Cuca não chegou no final de 2017 para planejar o ano seguinte. Precisou trabalhar e buscar os títulos com um elenco diferente e contratações que não indicou. Zidane chega com a terra arrasada por Julen Lopetegui e Santiago Solari e com poucas boas notícias – basicamente, a ascensão de Reguilón, Llorente e Vinícius Júnior. O final de temporada será para cumprir a obrigação de assegurar vaga para a próxima Champions, avaliar o que deu errado e quais peças precisam ser trocadas.

Agora com ainda mais moral pelo status de treinador mais vencedor dos últimos anos e orçamento milionário para movimentar o mercado de transferências no verão. Um novo cenário que, a rigor, mantém Zidane como o que era quando assumiu pela primeira vez: uma grande incógnita.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.